Numa pequena e simples casa do bairro Volta Grande, em Volta Redonda, mora uma mulher que surpreendeu o país pela sua força diante da maior perda de um ser humano: a morte de um filho. Dona Marília de Barros, de 46 anos, é mais conhecida como mãe de Arthur Vinícius, uma das dez vítimas do incêndio do Ninho do Urubu. Ela enterrou o filho no dia em que seria a festa de aniversário de 15 anos.
Mesmo no meio da dor, Marília não perdeu a oportunidade de mandar mensagem às outras mães, mulheres: “Façam tudo pelos seus filhos como eu fiz pelo meu. Ele fazia o que amava e isso me consola”, declarou dona Marília, no velório do futuro craque.
“A fé que me mantém”
“Eu me fortaleço a cada dia em Deus. Sempre falei da fé e hoje estou provando a minha. Com eu vejo nos vídeos, a alegria dele. Eu não tenho revolta. Só tenho que agradecer a Deus que fui mãe de Arthur, um menino de ouro”, disse.
Quando Arthur ainda estudava em Volta Redonda, relembra a mãe, uma professora chamou para uma conversa, pensando que fosse alguma bagunça que ele teria feito. Mas não era: “A professora falou que o Arthur foi o único que agradeceu quando recebeu o material escolar. Esse era o meu filho, uma pessoa grata”.
“Vivemos intensamente, erámos grande companheiros. Tenho certeza que ele estava feliz. Ele me dizia que era o meu ano e que seria famoso, mas eu não imaginava que seria desta forma”.
A tragédia do filho foi precedida por outras no passado. O pai de Arthur, conhecido como Funeca, foi assassinado em dezembro de 2009 enquanto carregava o filho, então com 5 anos, nos braços. Vingança, disseram os tios do garoto.
A família também vinha enfrentando o luto desde 20 de janeiro, quando um tio de Arthur morreu em um acidente de motocicleta. Estavam sem ânimo para festejar. Mas era o aniversário de Arthur, e isso justificava o esforço para montar uma festa. Um dia antes de morrer, o menino deixou a mãe avisada: a lista de convidados incluía cerca de 60 amigos. Agora, todos choram em conjunto ao lado do caixão e da foto de Arthur, sorridente, vestindo a camisa do Flamengo.
“Quando houve a perda do pai, sempre tentou ser pai e mãe ao mesmo tempo. O que me sustenta é que ele não queria não me ver sofrer. Não tem outras explicação do que a fé. O que tenho que fortalecê-lo”, finalizou a mãe.
Dona Marília traz a esperança as outras mulheres, mães. Esse é grande legado de Arthur Vinícius.
Reportagem: André Aquino. Fotos: Redes Sociais e Pablo Jacob (O Globo)