A emoção de dona Penha, de 72 anos, e a voz embargada demonstram a imensa alegria de uma avô que lutou muito e hoje sabe a importância da gratidão. Ela lidera o projeto “Adote Sorrisos”, que atende em torno de 350 crianças no Natal e na Páscoa de comunidades carentes em Volta Redonda.
Avó, mãe, nordestina e guerreira, Penha Rodrigues dos Santos é a quarta personagem da série de reportagem “Especial Dia da Mulher”, produzida pela equipe do TRIBUNA no mês de março.
Não é novidade que toda mulher nordestina traz no sangue a valentia, a coragem, enfrenta qualquer disputa e jamais foge da luta. Natural de Rio Tinto, no estado da Paraíba, ela casou aos 16 anos, com autorização dos pais, com José Januário, o Zezinho, e tiveram três filhos: Nanci, Simone e Pierry.
O início
Dona Penha, que ficou viúva há 4 anos, deu início ao projeto “Adote Sorrisos” que existe desde 2011, quando Zezinho trabalhava em Barra do Piraí e ia com um amigo ao final do dia entregar verduras no Morro da Caixa D’Água.
“Ele trabalhava na garagem de serviços públicos da prefeitura de Barra do Piraí, onde tinha um amigo que passava recolhendo verduras, legumes e frutas no final da tarde em um sacolão, mercados e outros lugares pra levar para algumas famílias do Morro da Caixa D’água. Então perceberam que algumas crianças não tinham brinquedos, roupas entre outras necessidades, e então resolveram juntar e pedir entre a nossa família e os amigos mais próximos”, conta a senhora, que continuou:
“Quando meu marido veio a falecer, tirei forças de dentro de mim e quis dar continuidade ao projeto que ele começou, dando fruto as sementes plantadas”.
Além de levar os brinquedos e os ovos, os voluntários fazem uma festa com distribuição de pipoca, biscoito, cachorro quente, refrigerante, algodão doce, além de brincadeiras e pinturas com as crianças.
Para Dona Penha, é muito gratificante fazer parte desse projeto e poder levar alegria para as crianças. Além disso, completa dizendo que ser uma agente transformadora na sociedade é o que motiva a seguir em frente, levando alegria e amor para todos. Dona Penha relata que quando começou o projeto ela sempre gostou de embrulhar os presentes, assim como os ovos de páscoa que ela confecciona
Bom exemplo
O principal instrumento de uma boa educação é o exemplo. E as filhas de dona Pena relembram, como a Simone Santos. Ela contou que seus pais viajavam até Recife e iam com o carro cheio de mantimentos, roupas e brinquedos durante a viagem paravam nos sertões para fazer doação às famílias que encontravam no caminho
“Meus pais sempre foram um exemplo pra toda nossa família, temos raízes nordestina e nos orgulhamos disso. Somos mulheres destemidas, que encaram a vida com força e alegria, não tem tempo ruim, tudo é motivo de reunir a família e virar uma grande festa. Somos da geração de mulheres nordestinas arretadas, que arregaça a manga e segue em frente, sinônimo de orgulho e luta. Não me calo às injustiças, e aprendi a olhar o próximo com igualdade, e muito disso com minha mãe” (Simone, filha de dona Penha).
“A gente ajuda, mas a maior parte do embrulho dos brinquedos, da confecção dos ovos até o laço final é ela que faz. E faz com muito carinho. Ela pega as bonecas usadas, lava, faz roupa nova e transforma aquele brinquedo sem utilidade em um brinquedo que pode ser usado por alguma criança”, conta Nanci, outra filha.
Dona Penha recebeu uma homenagem na AEVR (Associação Dos Engenheiros e Arquitetos de Volta Redonda) pelo trabalho social que sempre esteve à frente, não só no “Adote Sorrisos”, mas durante toda sua vida. Ela ajudou na construção da comunidade Eclesial Cristo Libertador e na Escola Municipal Prof. Luiz Cantanhede C Almeida, junto com alguns moradores do bairro Brasilândia
Nordestina da Paraíba e nada de mulher macho, dona Pena é mulher porreta: cheia de amor e luta.
Reportagem: Priscila Eller. Fotos: Arquivo Pessoal.
Confiram outras reportagem da série “Especial Dia da Mulher”:
Especial Dia da Mulher: As heroínas do Samu de Volta Redonda
Especial Dia da Mulher: Maria Cecília, faz da doação o lema de vida
Dia da Mulher: Do luto à luta, a força de Marília – mãe de Arthur Vinícius