Por André Aquino, na ‘Depressão, mal do século’
A pequena, estreita e pouca iluminada escada dá acesso a uma sala cheia de cadeiras. Dentro, pessoas em recuperação vivem e contam a sua vitória das últimas 24 horas. O prédio surrado na Avenida Amaral Peixoto, no Centro de Volta Redonda, abriga uma reunião da irmandade Neuróticos Anônimos e, para muitos, ali a vida é salva diariamente na luta contra a depressão, bipolaridade e a ansiedade. Um dos sagrados do N/A: o que é dito na sala não sai de lá.
Rafael Almeida, nome fictício para preservar o anonimato, frequentou a sala há quase dois anos e conta que no início ficou inseguro, mas com o passar do tempo, identificava nos depoimentos de outros frequentadores a sua própria vida.
“Tive depressão após o fim de um casamento e estava completamente desorientado. Porém, nas reuniões dos neuróticos, fui tendo a certeza que não era só eu que sofria e via pessoas que passaram por momentos mais complicados na vida e hoje estava vivendo bem”, relatou Rafael, que hoje também está livre de medicamento controlados.
“Os grupos de estudos também me ajudaram a reconhecer como eu sou e aceitar meus defeitos. É tão gratificante quando chegamos a uma sala de N/A. e encontramos pessoas que se prontificam a nos ajudar, prestando atenção aos depoimentos, entendendo e aceitando nossos defeitos”, continuou ele, de 36 anos.
Primeiro passo é aceitar a doença
A programação do Neuróticos é baseada nos 12 passos da irmandade do AA (Alcóolicos Anônimos). O preceito inicial é aceitar que tem uma doença e reconhecer que precisa de ajuda. “Sozinho não iria me recuperar nunca”, reflete Rafael.
“No início da manifestação da doença, recebia atenção das pessoas ao meu redor. Familiares e amigos iam comigo ao médico, tentavam conversar, mas logo depois é como se as pessoas desistissem de você. Ninguém pode parar a vida para cuidar de um depressivo. Eu acabei me tornando uma pessoa chata e me vi sozinho com a minha dor, até encontrar o grupo”, disse.
Na medicina, o termo Neurose foi abolido e transformado em transtorno de ansiedade. “Hoje o neurose é mais utilizada na psicanalise”, disse o médico Fernando Sabino de Souza.
Três grupos N/A no Sul Fluminense
O Neurótico Anônimo ainda é pouco difundido na região Sul Fluminense. Segundo o site a irmandade, há três grupo: Volta Redonda, Barra do Piraí e Valença. Para ajuda-los, a prefeitura de Volta Redonda divulga nos painéis eletrônicos da cidade a propaganda da N/A.
As reuniões na maior cidade da região acontecem segunda, quarta e sexta-feira, além de domingo, sempre às 19 horas. O grupo fica avenida Benedito Lopes Bragança, 19, com esquina com a Amaral Peixoto. Já em Valença os encontros ocorrem na Igreja São Sebastiao (rua Padre José de Albuquerque, 100) às quartas-feiras, também em 19 horas. No mesmo horário, nos sábados, as reuniões acontecem em Barra do Piraí (Praça Nilo Peçanha, 27 – sala 101 – Centro – Edifício Casa do Viajante).
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