Pai é pai. Não importa como veio o filho, por adoção ou via natural, o amor é incondicional. Pai é tão bom que há aqueles filhos privilegiados que têm dois. O Tribuna.SF conta histórias de casais homoafetivos masculinos que conseguiram (ou estão em processo de) adoção de crianças.
Eles relatam os processos judiciais, os preconceitos, mas – acima de tudo – um amor incondicional e a formação de uma família. A reportagem especial é do jornalista André Aquino, na semana em que se comemora o Dia dos Pais (no próximo domingo, dia 13).
“Parei de tomar remédio de gravidez em 2012”, brincou Carlos Alberto dos Santos, 45 anos, referindo-se ao início do processo de adoção de uma menina. Ele é casado há três anos com Gustavo Francisco de Almeida, 41 anos. Mas estão juntos há 12 anos. “Nossa gravidez durou três anos”, complementou Carlos, o tempo em que eles conseguiram a adoção.
Os dois, que são paulistas e hoje moram em Angra dos Reis, tem uma filha de seis anos, a Júlia. “A nossa pequena é uma privilegiada, tem dois pais”.
O importante é a felicidade da criança
Mas, ela não sente falta de uma presença feminina no lar? “De maneira alguma. As tias dela são bem presentes. No entanto, o mais importante é a criança ser feliz, independente se os pais são héteros ou não”, respondeu Gustavo.
E ele tem razão. Pesquisas da Universidade de Washington, nos EUA, divulgada no final de 2017, mostram que casais foram analisados e observou-se que a felicidade não depende da figura do pai e da mãe, mas sim na convivência entre os casais, seja heterossexuais ou não.
À espera do primeiro filho
Na véspera do Dia dos Pais, o casal Robson Miranda da Silva, 39 anos (professor); Leandro Luís da Silva (engenheiro), 42 anos, estão ansiosos para a chegada do primeiro filho. Eles ainda não sabem o sexo, idade ou de onde vem.
“Começamos com o processo em 10 de maio de 2017, na comarca de Porto Real. Já passamos pela entrevista com a assistente social e psicológico e pelo curso oferecido pela Justiça (que são quatro encontros). E até visitamos uma casa de acolhimento em Porto Real. O processo está na fase final. Não fizemos nenhuma exigência: não precisa ser bebê, nem preferência de sexo ou idade. Pode ter algum deficiência ou uma doença grave. O que queremos é dar amor”, ressaltou.
Juntos há 18 anos, o casal oficializou o amor há um ano com o casamento de papel passado. Eles moram em Volta Redonda, mas escolheram Porto Real porque é mais próximo ao trabalho de Robson.
Pai gay e solteiro, sim!
Natan Teixeira se autointitula como pai solteiro. Ativista das causas LGBTI, ele tem Isaque de quatro anos, de guarda compartilhada. A criança está com ele desde seis meses de idade.
“O casal de lésbica tem mais facilidade e agilidade no processo. ‘Um privilégio’ por serem mulheres. É um preconceito camuflado contra os homens gays”, disse Natã, que também é coordenador da ONG Volta Redonda Sem Homofobia.
Nem tudo são flores
Em 2016, a ONG Volta Redonda Sem Homofobia denunciou à defensoria pública uma escola municipal da cidade. A unidade teria cometido um ato de preconceito contra um aluno de 12 anos que era filho de uma relação homoafetiva feminina.
“A direção da escola estranhou quando uma das mães compareceu à festa do Dia dos Pais. Dias depois, quando as duas mães foram levar o filho à escola, a direção sugeriu que elas não fossem juntas porque ‘os outros pais poderiam estranhar’”, contou Natã.
Na ocasião, o caso também foi denunciado à Secretaria Municipal de Educação – os representantes da ONG não foram recebidos na prefeitura de Volta Redonda. O menino relatou também que após episódio ele era isolado dos demais alunos, conforme relatou a ONG Volta Redonda Sem Homofobia.
O preconceito, como aconteceu na noite escola de Volta Redonda, vem da falta de informação e o amor supera quaisquer forma de discriminação.