Sociedade - Especial Sul Fluminense

A luta de deficientes no mercado de trabalho no Sul Fluminense



Avançou. Porém, ainda não é o ideal. Os deficientes físicos ainda têm dificuldades para serem inseridos no mercado de trabalho no Sul Fluminense. De um lado, o preconceito. Do outro, a própria falta de capacitação dos deficientes. Há quase 30 anos, a lei da cota diz que pelo menos 5% dos funcionários de uma empresa tem que possuir deficiência.

A psicóloga Renata Araújo, especialista em Recursos Humanos, explica: “Numa forma de proteção, para evitar preconceitos, pais de deficientes não matriculavam os filhos em cursos de capacitação profissional, de línguas ou de faculdade. Isso acontecia na década de 80, 90 e 2000 e reflete no mercado de hoje”, disse a profissional, que continuou:

“Não há uma estatística, mas a maioria dos deficientes inseridos no mercado adquiriram a deficiência após concluir estudos, cursos ou já estavam trabalhando”.

Nesta reportagem especial, produzida pelo repórter Felipe Rodrigues, o TRIBUNA conta histórias de deficientes que conseguiram enfrentar as dificuldades e hoje são membros produtivos da sociedade.

A vitória é diária

Marília Rocha Pereira é uma delas. Portadora de deficiências auditiva, visual e da síndrome de Axenfeld-Rieger, ela não fez as suas limitações um obstáculo para sua capacitação. Correu atrás e está vencendo.

Aos 32 anos, Marília está no primeiro emprego de sua vida: é estagiária de Comunicação no Hospital Unimed de Volta Redonda.

A estudante, que cursa o sétimo período da faculdade, contou que com apenas seis meses de vida seus pais descobriram que ela era portadora de Hidrocefalia e, desde então, a jovem faz encaminhamento com Neurologista, sendo que hoje em dia a doença está controlada e vive a vida normalmente. Porém apenas com cinco anos foi diagnosticado a problema de audição.

“Com o passar do tempo veio mais uma descoberta, dessa vez o diagnóstico que eu era portadora de Glaucoma, minha pressão ocular já chegou a 50, sendo que o normal para idade que eu tinha na época era no máximo 12, minha sorte é que comecei o tratamento de imediato e não perdi a visão”, contou Marília.

Marília falou sobre a dificuldade em ser inserida no mercado de trabalho. Para ela, todas as dificuldades enfrentadas foram devido suas deficiências. Muitos desistiriam, mas a estudante disse que desistir é uma palavra que não faz parte de sua rotina.

“Estou muito feliz por essa conquista, pois estou estagiando em uma empresa que é considerada uma das melhores para se trabalhar e sem contar que a equipe é super unida e engajada. Isso faz com que eu tenha mais vontade de seguir firme e realizar um grande sonho que é ser jornalista por formação” (Marília)

Para o presidente da Unimed de Volta Redonda, Luiz Paulo Tostes Coimbra, a unidade particular tem o compromisso com a profissionalização e valoriza a inclusão de pessoas com deficiência na Cooperativa.

“Investe no desenvolvimento de seus colaboradores, pois acredita que todos contribuem para o crescimento do negócio.  Para captação de pessoas com deficiência, a Unimed Volta Redonda participa de Feiras de inclusão social, por meio do Ministério do Trabalho, e eventos. Também realiza banco de reservas de currículos para seus processos de recrutamento e seleção. Apesar dos esforços da Cooperativa ainda temos baixa procura de candidatos PCDs”, ressaltou o presidente da Unimed Volta Redonda.

Não há limites para sonhar

O esporte no geral é uma das maiores paixões nacional. Seja no campo, quadra, areia ou no tatame. Em Barra do Piraí, existe um atleta mais que especial, seu nome, Patrick Roberto Oliveira Pinto, ele tem 24 anos e luta jiu jitsu desde o 16 anos, e carrega consigo 32 medalha que ganhou ao longo de sua trajetória como atleta.

Seu diferencial é que ele é deficiente auditivo. No ano passado, o jovem, que é faixa marrom, disputou o Campeonato Mundial de Jiu Jitsu, nos Estados Unidos e conquistou três medalhas. Seu sonho é seguir no esporte e se tornar uma grande referencia no quesito superação de obstáculos.

“O Jiu-jitsu é muito importante para mim, quero levá-lo para mundo todo e mostrar que não há limites quando se tem um sonho. Penso que no futuro vou ajudar muita gente a superarem seus medos e o preconceito”, expressou.

Recentemente, Patrick parou a internet quando postou um vídeo usando a linguagem de libras, pedindo patrocínio para poder participar do Campeonato Mundial Europeu, que vai acontecer em maio, em Portugal. O vídeo teve mais de sete mil visualizações e inúmeros compartilhamentos.

“Quando eu publiquei o vídeo, não imaginava a repercussão que teria. Graças a Deus através de todos os que compartilharam eu conseguir levar a minha mensagem para muita gente e tenho recebido muito apoio”, contou Patrick, fazendo questão de agradecer a todos que estão ajudando na realização desse sonho.

O jovem, que mostrou que não veio ao mundo de passagem, contou que nem tudo foi fácil, resistir ao preconceito para realizar seus sonhos foi uma grande fez com que o jovem tivesse cada vez mais destaque na modalidade. “No inicio enfrentei muito preconceito, acredito que as pessoas duvidavam da minha capacidade, mas eu tive quem me apoiou e lutou junto comigo para que eu conquistasse esse sonho”, concluiu o atleta.

Há 20 anos na mesma empresa 

O analista de sistema volta-redondense Roger Iglezias Peres, de 43 anos, trabalha a mais de 20 anos na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e é paraplégico.

Para ele sua maior dificuldade é acessibilidade nos locais onde não há adaptação para quem é cadeirante.

“As empresas nem sempre são adaptadas fisicamente para receber um deficiente físico e essa é um das dificuldades que a gente encontra no dia-a-dia”, explicou Roger.

Ele acredita que para todos os deficientes que tem a dificuldade de se locomover sozinho a maior dificuldade são as vias sem manutenção, calçadas estreitas e locais onde não há rampas de acesso ou um banheiro adaptado para esse público.

“Acessibilidade não deve ser tratada como algo para deficientes, é uma necessidade de todos em todas as fases da vida. Nas cidades da região muita coisa já melhorou em relação a acessibilidade para nós, porém ainda não é o suficiente”, disparou.

Para ele, a conquista da independência financeira e social é algo que todo e qualquer pessoa, seja deficiente ou não, é extremamente importante, porém a inclusão social é algo que ainda precisa ser mudado, principalmente nas cidades interioranas.

“Nós vivemos um estado sem suporte, não temos transportes decentes e com isso o deficiente acaba não saindo de seus lares, os poucos que vão são os diferentes. Sofremos com os olhares da sociedade de surpresos e de piedade, hoje isso não me incomoda mais, existem muitas pessoas que se trancam por isso”, garantiu.

Seus sonhos para o futuro não são muito diferentes do restante desse público, o analista disse que seu maior objetivo é sempre lutar pela sua independência.

“Meus maiores sonhos para o futuro é viver bem com saúde com dignidade sempre buscando a minha inclusão minha sociabilidade no maior nível possível”, finalizou Roger.


Deixe seu comentário

error: Content is protected !!