por Tribuna
A banca do jornaleiro, de 71 anos, morador de Volta Redonda, está fechada. Mas não porque está cumprindo as restrições do decreto municipal que prevê isolamento social. Ele morreu. Foi vítima do Covid-19 e veio a óbito no último dia 3 de abril no Hospital Regional, após ser transferido da UPA do Santo Agostinho onde recebeu o primeiro atendimento.
O idoso não soube nem do falecimento de sua esposa, de 65 anos, que morreu três dias antes.
Em entrevista exclusiva ao TRIBUNA, a filha falou que o seu pai fechou a banca e já se encontrava uma semana em casa de isolamento social. A partir daí, ele começou a apresentar os sintomas gripais e, em seguida, teve falta de ar quando procurou a UPA.
Entubado, foi transferido para o Hospital Regional, morrendo dois dias depois. “É uma doença nova. Todos estamos sem saber. O processo muito rápido. Ele tinha 71 anos, mas era muito ativo e alegre. Fiquei anestesiada”, disse a filha, de 45 anos, relatando o momento do sepultamento sem a oportunidade de dar o último adeus.
— No enterro, a sensação de vazio foi enorme. Não tive direito de despedir, com o caixão lacrado. A sensação que meu pai foi enterrado como indigente. Infelizmente foi assim — disse a filha.
Ela foi privada de dar o último adeus. O corpo deixou o Hospital e foi direto para o enterro no Cemitério Portal da Saudade, sem velório — conforme determina o protocolo da Organização Mundial da Saúde.
Emocionado e religiosa, em entrevista por telefone, ela disse que vem buscando força para superar a perda do pai em Deus.
“Não é só minha família. Há outras que também estão sofrendo. Temos que pedir a Deus para consolar o coração de todos”, disse a filha, que fez o teste e deu negativo. “Vai ficar os momentos bonitos que passamos juntos”. O idoso era diabético e teria passado por uma cirurgia na perna.
— Essa doença não escolhe ninguém. Vejo as ruas cheias e as pessoas não sabem como é perder um ente querido — alertou.
Já a mulher, madrasta da filha do jornaleiro, morreu dias antes. A senhora de 65 anos, que tinha problema saúde, deu entrada na UPA do mesmo bairro, foi entubada e morreu horas depois.
Leia ainda depoimento de outros familiares
Mãe morre e filha sofre preconceito: “Doentes por falta de compaixão”
Filho de idoso morto em Volta Redonda relata evolução da doença
“Vamos nos previnir”, diz irmã de idoso morto por Covid-19 em VR