Barra Mansa Especial

Conheça a história de mãe que venceu a depressão pós-parto



Por Felipe Rodrigues

No início da gravidez, tudo corria bem, até que após a 34ª semana de gestação, Ângela de 35 anos (vamos preservar o anonimato), moradora de Barra Mansa, começou a sentir um medo descontrolado. “Até aí eu achava que estava tudo bem, mãe de primeira viagem tem suas dúvidas, medos e receio, porém a situação foi se agravando ainda mais”, contou a mãe, que na época atribuiu os sentimentos a grande mudança de vida.

Há dez anos, ela se tornou mãe. O sonho se tornaria uma grande provação: Ângela estava com os sintomas depressão pós-parto. Ainda não sabia. Quando ela já estava prestes a ganhar o filho, foi o momento que a crise veio com mais força e ela classifica o momento como um dos piores dias de sua vida.

“Eu sempre quis ser mãe, mas sabia que algo errado estava acontecendo. No dia que eu fui para o hospital senti que não conseguiria ser mãe, pensei em mil coisas, dentre elas não ficar com ele. Até então não tinha falado sobre isso com ninguém, tive coragem e contei para meu marido e o médico obstetra”, relembrou.

Para Ângela, aquela sensação era um misto de alívio e desespero. Alívio por poder expor seus sentimentos, mas desespero por estar sentindo aquelas coisas.

“Meu marido não entendeu nada, mas ficou quieto, talvez ele ficou em choque com a declaração. Já o médico teve certeza que eu estava com um quadro depressivo e conversou conosco”, relatou, acrescentando que naquele momento ele soube falar o que precisava ouvir.

“Ele chegou bem calmo e nos falou que suspeitava que eu estivesse desenvolvendo uma depressão, devido a gravidez e mudança hormonal. Ele disse que isso era comum, principalmente em mães de primeira viagem, mas que era uma doença grave que precisava ser tratada e controlada. Em momento nenhum eu odiei meu filho, eu só pensava o tempo todo que eu não seria uma boa mãe ou saberia como cuidar. Mas eu o amava desde quando descobri que ele se formava dentro de mim”, expressou.

“Após o nascimento, voltou com mais intensidade”

Um mês após o nascimento, a mãe se sentia bem e já estava se acostumando com a rotina, mas a doença voltou e dessa vez com mais intensidade. “Eu olhava para ele e não queria mais tê-lo em meu colo, não queria amamentar ou cuidar dele. Nesse período, minha família e do meu esposo, sabendo da situação se uniram para ajudar nos cuidados com meu filho e eu comecei a fazer um tratamento com psicólogo e psiquiatra”, contou.

Encarar os próprios monstros

Para a mãe, o tratamento foi fundamental para ajudá-la a encarar seus próprios monstros. “Foi essencial procurar uma ajuda especializada, mas isso aconteceu somente porque fui obrigada. Não queria acreditar que aquilo era algo do subconsciente. Estava completamente convicta que não queria o meu filho. Passei a tomar medicamentos fortes que me ajudaram a lidar com a doença, mas devido a composição dos remédios não pude amamentar, isso me gerou uma tristeza ainda mais profunda”.

Ângela contou que uma coisa desencadeou outra. “Após um tempo fazendo o tratamento, meu leite empedrou pelo tempo que fiquei sem amamentar. Isso me deixou ainda mais depressiva, me culpava por ter tido a doença, pensei em tirar a minha vida, pois eu sentia que ele não precisava de mim e tinha muito medo dele não me perdoar por um dia pensar que não queria ficar com ele”, disse emocionada.

Ajuda continua

A mãe ainda contou que devido a todos os problemas relacionados a sua gravidez e pós-gravidez, continua até os dias buscando ajuda psicológica. “Hoje não tomo mais remédios, o tratamento que eu faço hoje é por vontade própria. A religião também é algo que me ajuda enfrentar os meus dias, mas a minha alegria maior e ver o meu filho crescendo e perceber que ele é o grande amor da minha vida”, expôs Ângela.

Na visão de uma psicóloga:

A psicóloga Karina Conrado explicou que falar sobre depressão pós-parto é algo muito importante. Segundo ela, a doença gera na mãe reações e pensamentos negativos e intensos. “A depressão pós-parto é uma complicação relacionada a ter filhos e é mais comum do que imaginamos”, garantiu, afirmando que a doença pode começar antes no período de gestação.

De acordo com a profissional, os principais sintomas da depressão pós-parto são: sonolência, falta de energia durante o dia, a perda do interesse nas atividades, baixa libido, baixo apetite, ataque de pânico, sentimento de incapacidade em cuidar da criança e irritabilidade.

“Existe um grupo mais propício a desenvolver a doença. Mulheres com histórico de depressão seja pós-parto ou de qualquer outra natureza estão mais suspeitas a desenvolverem. Quando a gravidez não é esperada ou desejada causa o aumento do stress ao longo do período gestacional e podem contribuir com o transtorno também”, explicou.

Karina ainda contou que as mulheres podem desenvolver outros sentimentos como a tristeza pós-parto. “A tristeza pós-parto é uma condição fisiológica relacionada aos hormônios que afetam o sistema nervoso central. Após o parto é normal que a mulher fique com deficiência de alguns hormônios e isso gera uma melancolia, porém esses sentimentos são passageiros, não havendo motivos para preocupação”, pontuou.

“Ao ser diagnosticada com depressão pós-parto, o quanto antes for iniciado o tratamento mais rápida será a recuperação. A depressão não é provocada apenas pelas condições biológicas, mas também envolvem fatores sociais e familiares”.

Para ela o fato da doença ter tido um crescimento notório nos últimos anos é devido a falta de cuidado com a saúde mental e, nesse momento, o apoio familiar é primordial. “Na maioria das vezes são os familiares que identificam os sintomas do quadro dessa doença. Estar presente é fundamental para minimizar e superar esse momento”, concluiu.

Fotos: Felipe Rodrigues. 

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