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‘Depressão, o mal do século’: cabeleireiro conta como superou a doença



Por Felipe Rodrigues“Depressão, o mal do século”

Quando o cabeleireiro Heverton Pires, 35 anos, estava na adolescência não imaginava o viria em sua vida. Sem ainda saber na época, os primeiros sintomas da depressão começou a florar. Aos 14 anos, ele não ia bem na escola, descobria a sua homossexualidade e momentos de conflitos interiores natural da fase da vida. Ele estava com depressão.

“Desde criança eu sabia o que eu era, mas com a chegada da adolescência, a liberdade já não era a mesma. E esse foi o início de tudo”, relembrou ele. Heverton é tema da nossa primeira reportagem: “Depressão, o mal do século”.

Bullying como gatilho da depressão

Na época em que Heverton era adolescente, a palavra Bullying não estava em foco. Mas, sem dúvida, o deboche de colegas foi um dos gatilhos para aparecer a doença nele.

Ele contou que tudo começou a partir do medo e desenvolveu a ansiedade, conforme conta o cabeleireiro: “Comecei a descontar os medos na alimentação. Isso me levou a obesidade nível 1. Com 16 anos, iniciei o tratamento com uma psicóloga, passei a aceitar minha sexualidade e perceber que eu não o único e nem estava sozinho. Mas, ao entrar pro ensino médio, as coisas ficaram mais perturbadoras, muitos deboches, poucos amigos, quase nenhum na verdade”, contou.

O medo e a vergonha, aos poucos foram ficando de lado, aos 17 anos, Heverton já conseguia se expressar, porém ele ainda alimentava seus fantasmas interiores, o alto ganho de peso foi algo que o incomodou, foi ai que ele iniciou um processo de emagrecimento.

“Dediquei a dietas e alimentações saudáveis, com pouco tempo perdi 40 kg, foi algo bem rápido, que me deixou em paz com meu corpo, mas como sempre tem alguém pra atrapalhar”, expressou.

De acordo com ele, uma vizinha começou a espalhar que o jovem era portador do vírus HIV. “Isso fez meu mundo cair, eu não era assumido dentro de casa e fiquei mais introspectivo, desenvolvi anorexia, bulimia, e pânico, tive que ir me tratar com psiquiatra também, comecei a tomar uma quantidade absurda de medicamentos. As fofocas na rua corriam soltas, e realmente estava muito magro e apático. Pouco tempo depois,  meu pai descobriu onde eu andava e me fez ‘sair do armário’”, recordou.

Aceitação da sexualidade

Para ele, aquele seria um dos seus piores dias. “Ele me surpreendeu com sua reação, ele me abraçou, disse que me amava e que não se importava com a minha sexualidade, ganhei um excelente amigo e aliado. Minha mãe também me deu apoio, isso foi essencial”, expressou.

Enquanto dentro de casa tudo estava indo bem, na escola as implicâncias dos colegas só aumentaram e tiveram consequências. “Tive que aumentar as medicações tomando dois a três compridos três vezes ao dia. Comecei a ter desmaios na rua, já não podia mais andar sozinho, tinha que ser monitorado”, disse.

Primeiro amor

Com os nervos um pouco mais controlados, em dia com suas atividades terapêuticas, Heverton foi melhorando seu estado emocional e logo se envolveu em um romance que ele o classificou como extremamente intenso. “Apresentei para os meus pais, eles aprovaram e demonstraram confiança nele. Pouco tempo depois descobri que ele me traia, eu vi com meus próprios olhos, aquilo para mim foi como uma punhalada, todos os transtornos voltaram à tona com muita força, naquele momento precisei tomar o dobro de medicamentos”.

Tentativa de suicídio

“Tomei todos os medicamentos que tinha em casa, de Dipirona aos de tarjas-preta. Foram mais de 400 comprimidos. Me sentia sob um vazio tão grande que calculei passo a passo como seria feito”, contou

Heverton contou que logo após ingerir os compridos deitou-se em sua cama para esperar o efeito. Em um momento de reflexão, ele se levantou, porém devido ao efeito das pílulas não aguentou o próprio peso do corpo e caiu.

“Nesse momento meu pai me acudiu e me levou até o banheiro, quando ele percebeu que eu não estava bem me levou ao hospital, logo fui encaminhado para emergência. Não havia muito que pudesse ser feito, o organismo já havia absorvido todos os remédios”, relembrou.

Foram quatro dias em coma. Durante três minutos ele esteve “morto”, após sofrer uma parada cardiorrespiratória.

“Ninguém acreditava em melhora, e se houvesse, com certeza teria sequelas. No dia 2 de dezembro simplesmente acordei do coma. Médicos, enfermeiros, um amigo, todos queriam ouvir minha voz, saber se eu tava falando falava. Quando comecei a responder foi uma gritaria dentro do CTI, nesse momento meus pais entraram choravam muito. Voltei sem nenhuma sequela, fui pro quarto, fiz exames, nenhum apontou alguma sequela”, contou.

Após a alta médica, ele continuou com a terapia e aos poucos foi se livrando da quantidade excessiva de medicamentos.

Volta por cima

No início do ano seguinte, como parte do tratamento terapêutico, ele foi convidado a fazer um curso de cabelo, foi ai que surgiu o novo amor: a profissão. “De cara me apaixonei pela profissão, tanto que exerço até hoje. Aos 20 anos, fui morar em São José dos Campos, não sei se foi pela frieza inicial do lugar ou pela solidão, os meus monstros voltaram e novamente iniciei a terapia, associei a terapias holísticas, que muito me ajudaram a me entender, me respeitar, aceitar os meus limites”, explicou.

A partir do retorno ao seu tratamento, os antidepressivos e o medo foram ficando de lado, no lugar deles, apenas a vontade de viver e de garantir um futuro diferente. Deixando de lado todos aqueles fantasmas lá atrás. “Hoje em dia aprendi a controlar meus sentimentos e ansiedade. Mantenho a terapia, hoje em dia faço parapsicologia, tenho uma excelente terapeuta, que me ajuda a aceitar as coisas da vida, mas suicídio é algo que definitivamente não está em cogitação, aprendi a ser otimista e saber lidar com os problemas do cotidiano”, garantiu o cabeleireiro.

Sonhos continuam

Casado há mais de 12 anos, Heverton em sociedade com seu esposo, conquistou seu próprio salão de beleza. Juntos eles dividem a vida e também os sonhos. A próxima meta é adotar um bebê e garantir uma família ainda mais completa. “Tive que passar por muitas coisas para perceber que a vida vale a pena ser vivida, tive muita ajuda familiar e profissional para conseguir reverter meu quadro depressivo”, disse.

“Em meio a toda essa situação eu aprendi muita coisa, principalmente que tudo na vida tem solução”, concluiu.


2 Comentários

    • Sheila Oliveira 17:59

      Exemplo de força e superação .Hoje o que vemos é um homem de caráter ilibado ,profissional responsável, dedicado e amdo por muitos. Tiro o chapéu pra você !!!

    • DENISE 22:39

      Admiro e respeito muito vc! Uma pessoa maravilhosa, um excelente profissional! Desejo tudo de bom na sua vida, vc é um guerreiro! Deus abençoe vc, seu esposo e o filho que Deus estáis a preparar pra vcs! Ore e confie sempre! Bjos

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