Colchão, travesseio, cobertor, espelho, vassouras, rádios e, até mesmo, TV à pilha. Esses são alguns objetos dos moradores de rua que fazem das praças públicas suas casas. Durante uma semana, o jornal TribunaSF fez um mapeamento dos lugares mais críticos e constatou que bairros nobres de Volta Redonda são os preferidos deles: Aterrado, Niterói, Laranjal, Vila Santa Cecília, São João, Sessenta e Jardim Amália.
Um dos moradores topou em conversar com a equipe de reportagem. Aos 59 anos, se identificou apenas como Joaquim, optou em viver a vida nas ruas após deixar a sua casa na cidade de Além Paraíba.
“Tive uma decepção amorosa e vim para Volta Redonda. Na minha idade, é difícil conseguir um emprego”, contou ele, que admitiu que gosta de uma cachaça para “esquentar as madrugadas frias”.
“Já me ofereceram um abrigo, mas não quis. Gosto da rua pela liberdade”, frisou ele.
Mas, o senhor não tem medo nas madrugadas? Ele respondeu, sem titubear: “Todos se conhecem na rua. É uma família, que têm brigas, mas um ajuda o outro”.
A voz prejudicada pelo uso constante de álcool e de cigarro, não esconde o bom vocabulário e a capacidade de raciocínio de Joaquim. “Gosto de ler. Saber das notícias, do que está acontecendo no país. Sou morador de rua, mas não um mendigo. Não sou alienado. Torço para Marina Silva, mas Bolsonaro vai ganhar a eleição”, falou ele, que aceitou um lanche do repórter. “Hoje, moro no Laranjal”, brincou ele, referindo-se ao bairro de classe media alta de Volta Redonda, que ele está dormindo há um mês. Joaquim não quis ser fotografado porque, segundo ele, “não estar na sua melhor fase da beleza”.
Violência na madrugada
Joaquim é exceção. O perfil do morador de rua é marcado por problemas mentais, dependência química e alcoolismo. E, muitas vezes, gerando violência. O último caso aconteceu no último dia 24, na Praça Independência e Luz II, no Aterrado, onde um morador de rua foi espancado até a morte.
No mês passado, outra moradora foi encontrada morta numa banco da praça Sávio Gama. No caso, foi causas naturais. Ela tinha família no bairro Três Poços, mas optava em viver nas ruas.
Solidariedade de um empresário
Comovido pela história de um casal, que estava morando há três meses na Praça São Paulo, no bairro Niterói, um empresário – que preferiu o anonimato – resolveu ajudá-lo. O casal tem uma casa em Três Rios, mas veio para Volta Redonda e encontrou na praça sua moradia.
“Fornecia alimentação, água e roupas. Comecei a conhecer a história deles e perguntei se gostaria volta para terra deles. Eles resistiram um pouco, mas depois aceitaram. Então, comprei as passagens e levei à Rodoviária de Volta Redonda. Fiz amigos e tenho certeza que eles retornarão a vida na cidade natal”, contou o empresário.
Prefeitura oferece uma rede de proteção
A prefeitura de Volta Redonda oferece diariamente uma rede de proteção para pessoas em situação de vulnerabilidade social e em situação de rua. A atuação é feita de forma preventiva e direta pela secretaria municipal de Ação Comunitária (SMAC). No ano passado, o Centro Pop, que é um Centro de Referência Especializado para População Em Situação de Rua – funciona no bairro Aterrado – atendeu uma média mensal de 121 pessoas(1.455 pessoas no ano), fez 496 abordagens sociais nas ruas, com uma média mensal de 41 pessoas, e deu apoio a cerca de 1.080 migrantes, uma média de 90 pessoas por mês. No mês de janeiro deste ano, cerca de 220 pessoas foram atendidas pelo órgão público.
O governo municipal oferece diversos serviços que vão do acolhimento até a reinserção das pessoas que estavam em situação de rua ao mercado de trabalho formal. Atualmente, a SMAC trabalha com a rede de proteção através de dois departamentos: o Departamento de Proteção Básica, que age na prevenção junto às famílias para fortalecimento do vínculo familiar; e o Departamento de Proteção Social Especial (DPES), quando já ocorreu a violação de direitos e a pessoa precisa de proteção social urgente.
A porta de entrada para a rede de acolhimento para pessoas em situação de rua é o Centro Pop, que funciona no Aterrado. No local, o usuário pode fazer higiene pessoal, lavar roupas e se alimentar. “Os usuários também são encaminhados para a rede de saúde, atendimento psicológico, tratamento para alcoolismo, entre outros, de acordo com sua necessidade. Nós somos uma referência em todo o Estado no atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade social”, explicou o prefeito Samuca Silva, que realizou na noite desta quarta (30) com a equipe de secretariado para discutir soluções para o problema.