A morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, levanta questionamentos sobre a condução da operação de resgate. Juliana caiu em uma área de difícil acesso, no sábado passado (21), mas só foi localizada e teve o corpo resgatado três dias depois. Para especialistas em operações de salvamento em regiões remotas ou de alto risco, houve lentidão na resposta das autoridades locais, o que pode ter comprometido as chances de um socorro mais eficaz.
Segundo os entrevistados, embora fatores como clima instável, neblina e terreno acidentado representem desafios para ações de busca, a demora no início das operações e a interrupção prolongada do resgate acendem um alerta.
O guia de turismo e ecoturismo William Santos, especializado em treinamentos e primeiros socorros em áreas remotas, avaliou criticamente a atuação das equipes envolvidas. “Vejo que poderia ter havido melhor organização e logística. O que se percebe é que a equipe de resgate não tinha conhecimento técnico suficiente, carecia de equipamentos adequados e apresentou lentidão no atendimento emergencial”, afirmou.
Ainda de acordo com o especialista, o intervalo de três dias entre o acidente e a localização do corpo não é aceitável para um resgate em montanha: “A partir do momento em que o acidente foi comunicado, já deveria ter havido uma mobilização imediata. É uma corrida contra o tempo. Juliana provavelmente estava ferida e ainda enfrentou a ausência de água, alimento e o frio intenso. Drones, por exemplo, poderiam ter sido utilizados para localizá-la mais rapidamente.”
William também aponta possível negligência por parte das equipes locais. “A demora no atendimento foi um fator crucial para o desfecho da situação. Mesmo com o mau tempo, houve certa omissão quanto à resposta rápida. As pessoas que foram ajudar não aparentam ser profissionais treinados para atuar em áreas remotas”, conclui.
Adilson Teixeira de Souza, presidente e fundador do Clube de Aventura Atma, de São Paulo, grupo que promove excursões para as principais montanhas do Brasil, reforça os desafios logísticos em montanhas como o Rinjani. Com ampla experiência em trilhas, ele aponta que algumas medidas poderiam ter evitado a tragédia ou ao menos criado condições mais favoráveis para a sobrevivência de Juliana.
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“A presença de guias experientes, tecnicamente capacitados e comprometidos com normas de segurança é indispensável. Além de conhecerem o percurso, esses profissionais devem dominar primeiros socorros em áreas remotas, gerenciamento de risco e tomada de decisão sob pressão”, destaca Adilson.
Segundo testemunhas, Juliana teria sido deixada sozinha após pedir uma pausa para descansar antes de retomar a trilha. Esse ponto também foi criticado por Adilson: “Jamais uma participante deveria estar sozinha em uma trilha de alto risco. Em caso de desistência, é obrigatório que um guia acompanhe a pessoa até um ponto seguro. Nunca se deve deixar alguém isolado, independentemente do motivo.”
Especialistas ressaltam que trilhas em regiões de alto risco devem contar com um plano de resgate estruturado e previamente definido, incluindo:
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– Equipe de resgate local treinada e preparada
– Equipamentos adequados para resgate em terreno acidentado
– Kit de primeiros socorros avançado
– Conhecimento de rotas de evacuação e pontos de acesso rápido
“Antes de qualquer trilha exigente, é essencial realizar uma entrevista prévia com os participantes. É preciso saber se a pessoa está preparada física e psicologicamente, se tem histórico de saúde, fobias, medo de altura, ansiedade ou qualquer condição que possa comprometer sua segurança durante a atividade”, orienta Adilson.
Corpo de Juliana será içado nas próximas horas
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Além da Filipinas, a publicitária também conheceu a Tailândia – onde viveu cinco dias em um retiro de yoga e outros cinco em um monastério budista – e o Vietnã, definido por ela como o “preferido.”
A publicitária também compartilhava nas redes sociais imagens dançando e praticando pole dance. Sempre sorridente, Juliana levava a vida, como ela mesmo postou: “devagar e sem muitos planos. Improvisando e deixando a vida acontecer.” Reportagem O Dia