Por Felipe Rodrigues
Dona Luiza Costa, de 80 anos, é uma privilegiada: tem três mães. Diagnosticada com mal de Alzheimer em 2011, as suas filhas Hildeneire, Hildener e Ilma Costa tornaram-se as mães da própria mãe. Todos os cuidados que as irmãs receberam na infância, hoje são retribuídos com o amor que dona Luiza tem para enfrentar a doença.
Moradoras da Vila Coringa, em Barra Mansa, elas são as primeiras personagens da série de reportagem “Mães Especiais” que o TRIBUNA publicará nas próximas semanas. Embora a expressão “Mães Especiais” pareça um pleonasmo, o portal contará história de quatro personagens até o Dia das Mães, que será comemorado em 12 de maio.
Mudança de Vida
A vida e a rotina de uma família podem mudar completamente quando um ente-querido adoece. Foi exatamente isso que aconteceu na vida das irmãs Maria Hildener e Ilma Costa, lojista e dona de casa.
A situação de dona Luiza piorou após um acidente que a deixou acamada, diminuindo ainda mais sua mobilidade e aumentando sua dependência.
Maria Hildener contou que a patologia começou a desenvolver após a senhora se aposentar.
“Minha mãe era uma mulher muito ativa, trabalhava em três postos de saúde e em um hospital em Barra Mansa. Quando parou de exercer sua função de formação se viu sem muito propósito”, falou.
Já a outra filha completou dizendo que a morte de seu esposo, pai das irmãs, foi o gatilho para que a doença de manifestasse com mais rapidez.
“Nós já sabíamos da doença, ela já estava sob tratamento psicológico e medicada, porém o baque que ela sofreu com a morte do meu pai foi muito intenso e eu acho que ela escapou para um mundo só dela”, pensou.
Hoje os papéis inverteram: as filhas passaram a ser mães e a mãe a filha.
“Às vezes ela me chama de mamãe. De certa forma me sinto mãe dela. Defendo e a protejo como uma leoa. Ela sempre foi uma pessoa caridosa, que fazia o bem sem olhar a quem, o mínimo que eu posso fazer é dar todo amor que tenho a ela”, disse Hildener.
Ilma também falou sobre o dia-a-dia com a sua mãe. “Ela depende da gente para tudo. Como eu fico com ela durante o dia, taco todas as atividades dela como banho, alimentação, higienização. Levo ela para o sol e ela adora ir para a varanda. Não sei o que será de mim o dia que ela partir, pois essa é uma rotina trabalhosa, mas a gente faz com amor e com total dedicação”, ressaltou.
Apesar de toda aparente fragilidade, a dona Luiza é dura na queda. Tem uma ótima saúde e dificilmente fica enferma. “Ela não dá nenhum trabalho, muito pelo contrário, é a alegria da minha casa e o amor das nossas vidas”, finalizou a filha mais velha.
Aprendizagem
A fase de cuidar da mãe, principalmente quando ela está debilitada, pode ensinar muita coisa para as filhas:
“Aprendemos a ter, em primeiro lugar, paciência. Além disso, generosidade, pois é preciso abrir mão do tempo dedicado a si mesma, como a mãe, no passado, abriu mão de seu tempo”, disse a psicóloga Renata Lopes: “Também se aprende a lidar com a resistência e encontrar soluções criativas para o que deve ser feito”.