Por Tribuna
O circuito nacional de shows de grande porte por muito tempo renderam (e ainda rendem) histórias em Volta Redonda. A cidade sempre foi roteiro obrigatório das bandas nacionais. A equipe de reportagem do jornal TRIBUNA fez a lista dos dez shows épicos que aconteceram no município. Para isso, foram ouvidos profissionais da área cultural e também pessoas que, simplesmente, curtem um bom som.
Entre outros colaboradores, estão: Cláudio Alcântara (jornalista e crítico há mais de 30 anos); Alexandre Xan (produtor e empresário); Francisco Edson Alves (jornalista); Claudinho Chiesse (radialista), Jussara Soares (O Globo) e Celso Carvalho (empresário cultural).
1º – Legião Urbana (1990) – Estádio Raulino de Oliveira
Considerada a maior banda de rock do Brasil de todos os tempos, o primeiro da lista foi o show de Legião Urbana em 24 de novembro de 1990, no inesquecível festival “Festival Estação Volta Redonda”. Foi quase uma unanimidade entre os entrevistados. A banda de Renato Russo estava no auge do sucesso. E o jornalista Francisco Edson Alves foi escalado para cobrir o show, com Luciano Pançardes.
“Pouco antes do show, me lembro de um dos assessores dizendo: ‘Ele não vai receber ninguém no camarim. Vocês têm que tentar abordar o pessoal da banda na passagem para o palco. Mas vou logo avisando: o Renato tá doidaço de uísque. Postado à frente da porta do camarim, meu coração disparou quando a porta se abriu e eu, instintivamente fui na direção de Renato. ‘Renato, Renato, você pode falar com a gente?’. Ele olhou e foi passando sem falar nada. Aí, meu lado de fã e repórter iniciante ao mesmo tempo falou mais alto. Pulei na frente dele e mandei: ‘Então me dá um autógrafo?’. Mas ele ignorou meu apelo e subiu ao palco”, relatou Alves.
Ele continuou: “Depois de cumprimentar o público, que lotava o gramado, Renato, rindo muito, emendou: “Vocês são engraçados, sabia? Até repórter daqui pede: `Moço, me dá um autógrafooooo´?”. O público foi à loucura. E eu, feliz da vida, mesmo tendo pagado aquele mico, falei com Luciano: “Caramba!!! Ele tá falando de mim. Uhuuuu!”.
No meio do show, Renato atirou a rosa (a foto acima) que ele segurava para o público, mas ela caiu nas minhas mãos. Eu estava na frente do palco, no lugar reservado à imprensa. Fiquei extasiado. De repente, Luciano gritou no meu ouvido. ‘Cara, olha para trás. O público quer a rosa’. Os seguranças estavam tendo dificuldades para conter a multidão, que alegava que a rosa era para os fãs. Mas, poxa, pensei, “também sou fá e isso é histórico!””
Até hoje há um cartaz do festival nos arquivos da secretaria de Cultura de Volta Redonda. Quem guarda o cartaz é o produtor cultural e empresário, Alexandre Braz, o Xan, que também é assessor especial da secretaria de Cultura de Volta Redonda.
2º Sepultura (2003) – Ilha São João
O segundo foi o show do Sepultura, banda brasileira de projeção internacional. Eles foram a principal atração do primeira edição do “Volta Redonda do Rock”, em agosto de 2003.
“Nesse evento trabalhei na produção e o Sepultura foi o primeiro nome que pensei para dar uma visibilidade ao evento. A banda ficava mais fora do país do que no Brasil e, nesse ano, eles fizeram apenas três ou quatro shows no país, sendo que só Volta Redonda não era capital. A força da banda é tão grande, que notamos dois ônibus da Argentina no dia”, disse Xan, também é idealizador do projeto.
“Lembro que os integrantes trataram muito bem os repórteres. Porém, era um cheiro insuportável de maconha no camarim e, após o show, eles pediram pelo menos dez pizzas, distribuindo para todos. Eles foram muito simpáticos”, contou o jornalista André Aquino.
3º Milton Nascimento & Gilberto Gil (2001) – Ginásio do Recreio dos Trabalhadores.
Para surpresa dos fãs da MPB, a turnê Milton & Gil passou por Volta Redonda. Era abril de 2001, no ginásio do Recreio dos Trabalhadores. Lotou, claro. Foram quase duas horas de som, com o impecável desempenho da dupla, conforme relatou o publicitário Hugo Telles, que contou uma curiosidade:
“Antes do show, tentamos falar com eles. Meu amigo fingiu que era repórter, mas os seguranças não acreditaram e nos expulsaram aos tapas. No final do show, porém, ficamos esperando atrás do ginásio e, quando o carro saiu, pulamos no capô. Milton abriu a janela e nos cumprimentou. Ganhamos a noite ali”.
4º Rita Lee (2008) – Ginásio do Clube dos Funcionários.
Apesar do ginásio do Clube dos Funcionários não ser o ideal para a realização de um show por conta da acústica, Rita Lee brilhou numa noite de julho de 2008 em Volta Redonda. Show simples, direto e encantou o público com os sucessos das décadas de 70, 80, 90 e 2000. Durante o show, ela provocou a plateia, no tom de brincadeira: “Vocês saem de casa e pagam para me ver. E eu pago para não sair de casa”, brincou a roqueira, levando ao delírio o público, um ensaio do anúncio de sua aposentadoria – que ocorreu anos depois.
5º Los Hermanos (2002) — Memorial Getúlio Vargas
No ano de 2002, o Freakshow — um evento de rock alternativo criado por Xan em 2000 — era um sucesso nacional e, com isso, foi possível fazer um evento semanal e que conseguiu visibilidade em todo país, trazendo bandas independentes de diversos lugares do Brasil e de fora
Xan relembra: “Após o sucesso do evento, conseguimos fazer uma edição especial com Los Hermanos (banda que eu já havia trazido duas vezes antes deles terem lançado disco e serem conhecidos). O interessante deste show foi que, coincidentemente, caiu no dia da final da Copa do Mundo, e a prefeitura nada programou para a comemoração do Pentacampeonato. E, então, o Freakshow ganhou um reforço de segurança e estrutura para receber não só o público do evento, mas também o povo em geral que queria ir pra rua comemorar”, contou.
6º Lobão (2014) – Praça Brasil
“As pessoas escutam muito funk e sertanejo. Então, estão acostumado a ter ejaculação (musical) precoce. Calma! Aqui é um show de rock, aqui é arte. Tem que ser apreciada”, discursou Lobão no momento em que o público pedia os clássicos dos anos 80. O show aconteceu na Praça Brasil, em 11 de novembro de 2014.
Como é hábito de Lobão misturar palanque com o palco, nem todos presentes se agradaram com o discurso do roqueiro Vida Louca. Num determinado momento do espetáculo, uma meia dúzia de pessoas gritou “Fascista”. Lobão respondeu com a sua sagacidade: “Pátria fascista está fadada ao fracasso”, alfinetou Lobão.
7º Cazuza (1988) – Clube Náutico
A voz não estava boa. Saúde fragilizada, ambulância no clube para emergência e pouco público. Porém, o show de Cazuza no Clube Náutico foi épico. Quem explica o porquê é a médica Fernanda Galvão, que na época tinha 19 anos.
“Foi um custo conseguir convencer meus pais deixarem eu ir ao show. Lembro que a doença estava deixando ele bem debilitado. Mas Cazuza se esforçava para agradar o público”, contou Fernanda, lembrando de um dos momentos mais marcantes do do show: “Me lembro que Cazuza queria pular em cima do público. Mas, como a população tinha pouca informação sobre a Aids, a plateia ficou com medo de encostar nele por causa da contaminação. Foi triste esse momento (hoje se sabe que a doença não é transmitida apenas com o toque)”.
8º Banda Eva com Ivete Sangalo. (1996) – Clube Comercial
Ivete ainda não era uma popstar. Cantava numa banda da Bahia e estava deixando o grupo. A apresentação foi considerada como incrível porque surgia ali, pela primeira vez, atual rainha da música brasileira.
“Que energia foi aquele show. Sai cansado de tanto cantar e dança. Ali, revelava uma estrela. Sou fã há mais de 20 anos”, contou a professora Cláudia Vaz de Oliveira, que na época tinha 18 anos
9ª Plant Hemp com Marcelo D2 (1998) – Aterrado
Show entra na lista não pela qualidade musical, mas pela circunstância da vinda da banda de Marcelo D2. Durante uma semana, o show ainda não estava confirmado porque a justiça estava questionando sobre o crime de apologia ao uso da maconha. Um dia antes, porém, eles conseguiram a autorização. Porém, quem foi não lembra bem quais as músicas que foram tocadas (será por que?).
Após o show integrantes da banda (com exceção de Marcelo D2) foram para o baile do Mares do Sul, no Clube dos Funcionários – surpreendendo a todos pela simplicidade.
10ª RPM (1987) – Ginásio da Ilha São João
Não tem como deixar de citar o RPM, no auge da carreira, no ginásio da Ilha São João, um show de tecnologia e visual para época. “Além, é claro, a forma como os rapazes mandavam muito bem no som”, relatou o jornalista Cláudio Alcântara, editor do site Olho Vivo