Barra Mansa

Para driblar a esclerose múltipla, Sandra viaja no mundo da literatura



Por Felipe Rodrigues

Dizem que quem tem um bom hábito de ler é capaz de se transportar para dentro da história. Independente do tema ou autor, a leitura é capaz de transformar as pessoas. Sandra Evangelista de Souza, de 42 anos, moradora de Barra Mansa, é uma das pessoas que desconta nos livros os mais diversos sentimentos.

Anualmente, ela lê cerca de 60 livros, uma média de cinco por mês. Esse prazer veio lá de trás, aos 12 anos. Esse hábito começava a se tornar apaixonante quando a Coleção Vagalume despertou o interesse.

Com o passar do tempo, essa prática foi aumentando, assim como a vontade de conhecer outros gêneros.

Nano Pavolli e Érica Marques são dois de seus autores favoritos, além de toda coleção da editora Darkside.

Nem tudo em sua vida foram contos bons. Há quatro anos, ela recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla e, desde então, vêm lutando contra a doença.

Sandra é a personagem da reportagem especial do TRIBUNA, ‘Vencendo os Limites’.



Interesse pela literatura


Sandra contou que nunca foi muito ligada em programas televisivos e, isso, é algo que carrega consigo desde a infância.  Para ela, a literatura é tão completa que tem o poder de envolver e transportar para outro mundo.

– Eu tenho três irmãos e, desde quando éramos crianças, tínhamos o mesmo interesse em livros. Nossa maior incentivadora era nossa mãe. Acredito que por ela não ter tido oportunidade de estudar, estimulava em nós esse hábito, relembrou.

Outra lembrança de sua infância era que a matriarca comprava uma vez por mês um livro de sua coleção favorita na época, a Vagalume.

– A gente lia um de cada vez, mas nós devorávamos os livros então quando todos acabavam de ler, ficava louco esperando o mês virar para ganhar mais uma coleção.

Já no período da adolescência, novos amigos com os mesmos interesses foram surgindo. Como exemplo uma vizinha, na qual trocavam constantemente os livros.

– Quando eu terminava de ler um livro emprestava para ela e ela me emprestava um dela. Depois que a gente lia tudo fazíamos encontros em que discutíamos a interpretação, eram momentos tão maravilhosos que nem via passar, disse.


Fase adulta e descoberta da doença


Assim, como nas primeiras fases de sua vida, a literatura seguiu acompanhando a entrada na maior idade. Sandra se tornou mãe. Trabalhava no comércio e, ainda assim, a leitura era sua fiel companheira.

Até que sua vida sofreu uma reviravolta. Em 28 de setembro de 2011, os primeiros sinais da doença começaram a se manifestar.

“Tudo aconteceu quando eu estava no meu antigo local de serviço e eu simplesmente cai. Fui levada ao hospital e lá acharam que eu estava tendo um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Passando dois meses eu estava totalmente normal, com os movimentos e voltei as atividades de sempre”, contou.


Pouco tempo depois, Sandra começou a perder o controle das pernas e isso ocasionava constantes quedas.

Até um dia em que uma das quedas fez com que ele machucasse o rosto. Durante um ano, ela fez um tratamento para crise de ansiedade, porém não houve um resultado positivo. Isso porque ela estava fazendo o tratamento errado.

– Quando eu percebi que não estava surtindo efeito, fui a um médico especialista. Ele me passou uma bateria de exames e me indicou iniciar a fisioterapia, após um período veio o diagnostico preciso. Em 20 de agosto de 2015 eu descobri que era portadora de esclerose múltipla, expôs.

Para ela, aquela notícia foi um baque: o desespero, o medo de ficar paralisada e da morte tomou conta daquele momento. Porém, o seu fiel companheiro ajudou a atravessar aquele momento de turbulência.

– Com certeza a leitura me ajudou muito. Aqueles dias que eu ficava mais triste eu lia uma comédia, isso me estimulava a pensar em outras coisas, acabava rindo e os problemas ficavam de lado. Foi assim que eu comecei a enxergar a vida melhor, garantiu.

PING PONG

Dificuldades: “Minhas maiores dificuldades estão relacionadas a locomoção, mas eu não deixo isso me abalar. Criar minhas filhas, que ainda são pequenas é um desafio. Porém, tenho o apoio tanto delas, que apesar da pouca idade são extremamente compreensíveis e maduras. Elas são minhas mini cuidadoras”.

Família: “Além dos meus cinco filhos tenho ao meu lado um parceirão, que é meu marido. Há 15 anos estamos juntos e ele esteve nos melhores e piores momentos de minha vida. Ele entrou na luta comigo e eu sou extremamente grata por isso. Sou muito abençoada em ter uma família tão maravilhosa”.

Preconceito: “Teve diversas situações, mas me lembro de um momento que me traumatizou. Ainda não havia recebido o diagnóstico de esclerose, estava uniformizada e indo trabalhar, quando desci do ônibus, com dificuldades para andar, fui me apoiando em um muro, uma mulher me viu e parou e começou a me ofender me chamando de bêbada e várias palavras de baixo calão, pois eu estaria ‘bêbada’ cedo e uniformizada.

Nunca mais eu passei por aquele caminho. Já teve situação em que me perguntaram se a minha doença era contagiosa”.

Vaidade: “Durante um tempo depois de receber o diagnóstico eu perdi completamente a vontade de me arrumar. Até que eu percebi que isso não ia me ajudar. Resolvi ficar loura e não saio sem maquiagem e batom e, sim, me sinto poderosa”.

Lição: “A maior lição que eu tiro de tudo isso que aconteceu comigo é que ninguém é tão independente ao ponto de fazer tudo sozinho. Que ser humilde te leva longe e dar valor nas pequenas coisas, como respirar bem, se alimentar sozinha sem engasgar, são coisas maravilhosas. Tem dias que eu acordo morta, mas na maioria das vezes com a vontade de dominar o mundo”.



 


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