Por Roberta Vitorino 

A comunidade Santa Clara, em Barra Mansa, deverá ganhar em breve a Casa Jurema, que terá como principal objetivo o atendimento assistencial de crianças, adolescentes e mulheres. O crescimento do evento Samba da Jurema motivou voluntários do projeto a ampliar a atuação.

– O principal objetivo será o desenvolvimento pessoal dos moradores. Não seremos uma instituição de caridade – disse o jornalista Davi Tedesco, um dos voluntários que está à frente do Samba da Jurema.

A Casa já está legalizada e o grupo aguarda uma reunião com a Prefeitura de Barra Mansa para solicitação da cessão do terreno público no bairro.

Mais de mil em cada edição

Idealizado para ser um evento beneficente, o Samba da Jurema surpreendeu, e, a cada dia, ganha mais adeptos. O evento, que começou com a participação de 200 pessoas, hoje atrai mais de mil a cada edição. Muitas ações já foram promovidas ao longo de pouco mais de um ano de projeto e sete edições.

Em uma delas, voluntários arrecadaram uma tonelada de alimentos não-perecíveis em prol de uma causa social apoiada pelo Sesc (Serviço Social do Comércio) de Barra Mansa. Também foram arrecadados brinquedos e agasalhos em outras edições. Atualmente cerca de 60 pessoas trabalham gratuitamente para a causa. Sete pessoas são responsáveis pela gestão da Casa da Jurema.

– Na verdade, ela só existe porque primeiro levantamos a bandeira do amor e da alegria, e com isso nasce uma nova forma de transformar pessoas – frisou Tedesco (foto abaixo).

Ao longo das edições, o sonho foi tomando forma, embora a Casa da Jurema não estivesse nos planos do grupo inicialmente, de acordo com Tedesco.

– A ideia toda começa muito antes do projeto Casa Jurema. Frequento a comunidade religiosa Omariô de Jurema, no bairro Santa Clara, em Barra Mansa. E como toda comunidade religiosa, as contas também vencem e a ideia inicial era fazer um trabalho onde pudéssemos arrecadar fundo para pagar as despesas de água, luz e IPTU da comunidade – disse o jornalista.

Tedesco explicou que a ideia inicial da Casa da Jurema será oferecer reforço escolar de português, matemática, geografia e história, musicalização infanto-juvenil e atendimento psicológico para crianças e mulheres.

– Queremos trabalhar o lado bom das pessoas e não pegar as dificuldades delas e fazer disso uma bandeira. Essa nunca será a nossa função. Nosso principal objetivo é desenvolver a capacidade das pessoas, no que elas sabem fazer de melhor. Não vamos trabalhar os problemas, mas sim, as soluções.

Outra ideia dos voluntários, segundo o músico Raphael Garcez, que é líder do grupo que faz os shows, é que além das oficinas de música a Casa tenha uma escola para ensinar samba para jovens da comunidade e arredores.

– Muitos dos componentes dos Juremeiros (nome com que o grupo que faz os shows foi batizado) são graduados em música e licenciados para dar aulas. Por enquanto, todo o trabalho será feito na base do voluntariado, mas pretendemos no futuro profissionalizar – disse.

“Já deixamos de ser um sonho”

A Casa da Jurema já existe legalmente, de acordo com o jornalista Davi Tedesco.

– Hoje já deixamos de ser um sonho e já existimos através do Estatuto Registrado e reconhecido em cartório, e estamos seguindo para etapa do CNPJ junto à receita federal. Através deste estatuto, empresas poderão contribuir, através de leis de incentivo à cultura, fazendo dedução do ISS – disse, explicando que a base de sustento do projeto será proveniente de recursos obtidos pelo Samba da Jurema.

A legalização contou com apoio do UniFOA (Centro Universitário de Volta Redonda), por meio do Escritório da Cidadania, que possui o projeto Tutelas Coletivas. Além de orientá-los juridicamente, o Escritório realiza todos os trâmites para a legalização da Casa Jurema.

O sonho do grupo é atuar no terreno localizado na Rua 10 do bairro Santa Clara.

– O terreno é da Prefeitura de Barra Mansa e sem atividades. Nossa proposta para o governo municipal é a revitalização do terreno, com uma concessão de uso, enquanto a Casa Jurema estiver funcionando. Por isso a ideia do projeto funcionar em um contêiner, pela mobilidade que será possível – explicou.

O projeto da Casa inclui ainda o trabalho de fossa séptica para tratar o próprio esgoto.

Embora inicialmente os envolvidos na Casa da Jurema sejam voluntários, o grupo responsável entende que a remuneração será importante para ter uma atividade fixa.

– É impossível conseguir manter profissionais qualificados, em datas e horas estipuladas, sem que sejam remunerados. Além do mais, existem custos de locomoção, alimentação e tempo de cada profissional – enfatizou Tedesco.

“Uma andorinha só não faz verão”

Além dos 60 voluntários, e de cerca de 30 expositores de moda, gastronomia e arte que participam por um valor simbólico, o Samba da Jurema também abre as portas para outros trabalhos sociais, desde a primeira edição. Um deles é o realizado pela cabeleireira Ana Paula Ribeiro, que promove ações como campanhas do agasalho, para moradores de rua, e a campanha de brinquedos “Um sorriso de uma criança cura a alma”, há oito anos. Ana Paula levou o projeto para o Samba da Jurema desde a segunda edição e com isso aumentou significativamente a arrecadação de itens para doação.

– A parceria com o Samba foi de grande valor, pois o projeto deles é voltado em ajudar o próximo e o meu também. Então, unidos estamos levando caridade e amor ao próximo – disse a cabeleireira.

Para Ana Paula, muitas pessoas tinham vontade de ajudar e não sabiam como.

– Hoje elas têm um espaço onde sabem que podem ajudar, tanto na campanha do agasalho quanto das crianças – afirmou.

Embora o projeto tenha oito anos, a divulgação da campanha no Samba da Jurema ajudou muito a aumentar a proporção das campanhas.

– Hoje conseguimos ajudar mais pessoas, e muita gente já me procura até fora das edições do Samba – disse.

No Samba de Natal, foram arrecadados 300 brinquedos.

– A primeira edição que estivemos com a campanha do agasalho também teve muitas doações.

Outra ação promovida foi a arrecadação de fundos para a Escola Municipal Quilombola de Santana Irmã Elizabeth Alves, de uma comunidade quilombola de Quatis.

– Sempre buscamos fazer eventos para angariar fundos para a escola, que pertence a uma comunidade humilde e conta com poucos recursos. Mas não esperávamos que o retorno seria tão bom – disse a diretora Angélica Rivelline.

A escola participou da última edição com a venda de pizzas fritas.

– Tivemos medo de gastar muito e não termos retorno, mas tudo acabou muito rápido – contou.

Grupo musical formado para o evento já é reconhecido

Do Samba da Jurema também saiu o grupo Juremeiros, que partiu para outros voos depois das primeiras edições. O evento solidário serviu de palco para enaltecer o talento dos músicos que atuam no segmento há anos. Os Juremeiros são a primeira orquestra do samba da região sul fluminense, que se apresenta dentro do evento Samba da Jurema. Em menos de um ano de formação eles já receberam o Troféu Melhores do Ano como grupo revelação 2018, promovido pelo apresentador da Band Taí Braz, e ganharam o troféu na categoria música, no II Prêmio Dandara e Zumbi dos Palmares, que aconteceu no dia 25 de junho.

– Os Juremeiros são um encontro de profissionais da música formados, maestros, professores, autodidatas e prodígios, que estavam pela cidade, cada um desenvolvendo seus trabalhos individuais. Dentro do Samba da Jurema, eles entenderam que poderiam somar no cenário cultural da cidade e levar samba de raiz em eventos paralelos – explicou o jornalista Davi Tedesco.

O grupo é composto por Arthur Jorge (cavaquinho), Daiana Damião (reco-reco e voz), Deivid Ramos (trombone), Igor Garcia Bravo (banjo e voz), LD – Luciano Dias (tantã), Leandro Tolentino (surdo), Mestre André (pandeiro de couro), Pedro Cabral (atabaque), Pedro Morais (pandeiro), Pedro Toledo (cuíca e saxofone), Rafinha Black (repique de mão), Raphael Garcêz (violão 7 cordas e voz) e Victor Oliveira (violão 6 cordas e voz).

Contatos: Casa Jurema |
https://www.facebook.com/nossacasajurema/
Samba da Jurema
https://www.facebook.com/sambadajurema/