Por Felipe Rodrigues, repórter do TRIBUNA (*)
Incerteza, medo, restrições, banalização de mortes, luto, luta, superação, sequelas, polarização na política, negacionismo, solidariedade, empatia, auxílio e vacina. E muita, muita esperança. Esses são alguns atos e sentimentos durante a pandemia nos últimos 12 meses em todo país e não seria diferente no Sul Fluminense.
O primeiro caso da doença no estado do Rio e o terceiro no Brasil ocorreu em Barra Mansa, uma servidora pública que havia acabado de voltar de viagem de férias da Itália. Em 1º de março de 2020, ela foi diagnosticada. Apesar do preconceito e boatos, comuns no início da pandemia, ela superou a doença e hoje leva uma vida normal.
Nesta matéria especial, a equipe de reportagem vai contar como está sendo o enfrentamento e os desafios da doença um ano depois do primeiro caso. Cidades da região estão vivendo o pior momento da pandemia.
Em números, no Sul Fluminense, no momento desta publicação, foram 96 mil contaminados e 2,5 mil vítimas fatais do vírus na região.
Luto!
Uma verdade que virou jargão na pandemia: ‘não são números, são vidas’. Uma delas foi a do empresário Mario Antônio de Carvalho, mais conhecido como Pinguilim, de 63 anos. No fim de março de 2020, ele começou a reclamar de fortes dores nas costas e muito cansaço, poucos dias depois, já com falta de ar, foi levado por sua esposa Denise Silva ao hospital onde já ficou em isolamento.
Após os exames, o vírus estava confirmado em seu organismo. Três dias depois ele foi entubado e no dia 9 de abril de 2020 veio a notícia de seu falecimento.
De acordo com a esposa, a qual viveram 20 anos casado, a notícia foi muito ruim para família toda, sobretudo pela forma em que eles ficaram sabendo.
“Começamos a receber mensagens de condolências, mas eu achei aquilo estranho, pois na manhã daquele dia soubemos que ele tinha tido uma melhora significativa”, disse ele, que prosseguiu:
“Tentei entrar em contato com o hospital, mas sem sucesso, quando o gerente do meu restaurante me ligou desesperado dizendo que todos estavam dizendo que o Mário havia morrido. Eu não podia acreditar naquilo, eu tinha certeza absoluta q ele sairia dessa situação crítica. A notícia se espalhou muito rápido, e ficamos sabendo pelas redes sociais”, contou.
Denise classificou o momento da perda de seu companheiro como o pior de sua vida, pois o esposo era uma pessoa apaixonada pela vida.
“Não desejo o que passei para ninguém, cheguei a questionar Deus o porquê. Foi muito difícil aceitar que havia chegado o dia dele, que ele havia encerrado o ciclo aqui na terra, desta forma, repentina e sem despedidas”, disse.
Como a doença ainda era uma incógnita, não havia muitas informações a seu respeito e com o falecimento de Mário, as pessoas se isolaram e ela se viu sozinha enfrentando seu luto.
“Tive muito apoio por WhatsApp, telefone, mas sem contato. Em cinco meses perdi muito peso, tive queda de cabelo, crise de ansiedade, crise de insônia, melancolia, mas a fé eu mantive comigo o tempo todo, e foi isso que me fez entender melhor e aceitar que tudo tem um propósito e que não me cabe questionar. Passei a ver nos meus filhos o maior motivo para me reerguer”, expressou.
Ela ainda completou. “A saudade não acaba, a dor da perda também não. Não se deixa de amar, porém nesta vida ele não voltará, somente nas lembranças que serão eternas.Fomos muito felizes e ele foi o melhor ser humano que eu poderia ter conhecido. Agradeço todos os dias por ter tido o previlégio de conviver com Mário por 20 anos”.
Luta!
Do 96 mil casos confirmados, 89 mil já podem ser considerados curados da doença. Manter a calma e confiar que vai dar tudo certo. Essas são as dicas de Lúcia Regina Werneck Ferreira que, aos 76 anos recebeu o diagnóstico positivo para a Covid-19. Hoje, já curada, a moradora de Pinheiral disse que descobriu a doença quando foi levar o seu filho a um hospital particular de Volta Redonda.
“Comecei a tossir e os médicos pediram o exame rápido. E fui diagnosticada e saí já medicada e com receitas, cumprindo rigorosamente as orientações de quarentena”, disse a senhora, que não precisou ser internada.
Apesar de pertencer ao grupo de risco a idosa contou que sempre manteve hábitos saudáveis e isso a ajudou no enfrentamento da doença.
“Sempre fiz minha academia, caminhada, hidroginástica. Faço pilates, nunca bebi e nem fumei. Durmo cedo e sempre me alimentei bem”, indicou.
A cura da senhora gera esperança aos demais idosos, tendo em vista que, na maioria dos casos, eles são os mais vulneráveis a doença. “É preciso respeitar o isolamento, por isso faço minhas compras por telefone e não recebo visitas. Assim cuido de mim e das pessoas que eu amo”, completou dona Lúcia.
Economia
O município de Volta Redonda apresentou saldo de 2.213 empregos nos últimos três meses do ano de 2020. Os dados foram obtidos através da plataforma da Firjan Retratos Regionais com dados fornecidos pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério da Economia.
Na região Sul Fluminense, o levantamento mostra que o último trimestre de 2020 encerrou com um saldo de 5.902 empregos. Todos os municípios da região tiveram o indicador de postos de trabalho positivo, exceto Mendes.
De acordo com Leonardo dos Santos, presidente da Câmara de Dirigentes e Lojistas de Barra Mansa (CDL), o município, que tem boa parte de sua economia movimentada através do comércio, teve um saldo positivo de abertura de lojas, principalmente no Centro, porém o impacto da pandemia gerou um reflexo negativo nas vendas, principalmente por conta do fim do auxílio emergencial, que influenciou numa queda acentuada de consumo.
“Nós já vínhamos com uma dificuldade em 2020, porém esse ano o reflexo de inadimplência e queda nas vendas são enormes. O comércio está retraindo”, especificou.
A esperança para os lojistas e empresários é que a vacinação ocorra de forma mais agilizada e com isso o impacto seja reduzido. “Acreditamos que conforme as pessoas forem se vacinando tudo irá melhorar. A incerteza ainda é muito grande e as previsões de melhoras ainda são pessimistas com os casos aumentando o cenário está piorando”, avaliou.
Vacina já
Não há outra opção a curto prazo que a vacina, tanto no aspecto econômico quanto de saúde pública. Até fechamento desta reportagem, o Sul Fluminense já havia vacinado mais de 80,4 mil pessoas – o que corresponde apenas 5,7% da população total.
Deste total, Volta Redonda concentrava o maior número de pessoas imunizadas: 20 mil com 6,7% da população vacinada.
Volta Redonda lidera o ranking entre as cinco maiores cidades da região.
Em seguida, vem Resende que já conseguiu imunizar 8,9 mil pessoas, o que equivale a também 6,7% da população. Já Barra Mansa atingiu a marca dos 8,4 mil, em torno de 4,5% da população.
Barra do Piraí foram três mil vacinados (3%) e, finaliza a lista, Angra dos Reis que teve 2,7% da população imunizada, o que equivale a 5,6 mil pessoas vacinadas.
— Foi uma sensação de alívio. Quero voltar para minhas atividades cotidianas após a segunda dose da vacina — disse o aposentado Antônio Luiz, de 80 anos, que tem que voltar ao posto de saúde no dia 4. Ele também está ansioso para a vacinação de sua esposa, que é cinco anos mais nova. “Ainda vou contar as histórias da pandemia aos meus bisnetos”, brincou. (Fotos: Gabriel Borges e Arquivo Pessoal) (*) colaborou André Aquino