Um vídeo apresentado como prova à Justiça mostrou o momento em que Paulo César Lima da Silva, o Paulinho do Raio-X (MDB), cobrou propina de Samuca Silva (PSC), prefeito de Volta Redonda, no Sul do Rio de Janeiro. O parlamentar é acusado de pedir R$ 325 mil para evitar um processo de impeachment
“Eu consigo movimentar, assim… Pra eles virem com menos, com menos sede. Eu acho que é um desgaste. Não vai passar. O resto é com a sua base”, disse o vereador, em um dos vídeos gravados pelo prefeito.
Na conversa, Paulinho do Raio-X usou a palavra injeção para se referir à propina. “A minha injeção não é grande. A minha injeção é pequena. Eu não viso muitas paradas, não. O que você acha que é bom para você? Tranquilo pra você? Posso te dar só uma moral para você botar o que acha?”.
Na sequência das imagens, o vereador escreveu o valor em um papel e disse: “Me arruma isso aqui. Eu destruo geral. Segunda-feira, o carro de som não vai estar na prefeitura. Não vai ter tribuna sobre esse assunto. Vai ter tribuna, mas não sobre esse assunto”.
As gravações foram feitas durante três encontros entre Paulinho e Samuca Silva.
“Ele solicitou a quantia de R$ 325 mil, valor total num primeiro momento. Posteriormente, nesse sábado [7 de março], ele confirmou, renovou a solicitação do dinheiro justamente no intuito de que os outros dois impeachments, já que o primeiro já tinha sido aberta a sessão e já tinha havido votação e não tinha prosperado, pra que os outros dois impeachments que estavam engatilhados pra sair não fossem levados à frente”, explicou Ana Paula Faria, delegada da Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro, da Polícia Civil
Depois do pedido de propina, o prefeito de Volta Redonda denunciou a tentativa de extorsão ao Ministério Público e à Polícia Civil. Paulinho foi preso em flagrante no último sábado (7), quando supostamente receberia o valor cobrado.
“Tá ali no carro. Quarenta mais os vinte e cinco mil. Quarenta uma vez mais vinte e cinco mensal. Ok? O que você quer fazer? Quer que eu traga aqui? Tá na mochila e os outros dois estão ali”, ofereceu Samuca.
Paulinho respondeu: “Eu prefiro que você traga”.
Neste momento, os policiais entraram na sala onde o encontro acontecia e anunciaram a prisão em flagrante. “Não tenta! Não tenta! De costas! Tá preso! Tá preso!”, disseram os policiais.
“Não botei a mão em nada!”, tentou justificar Paulinho.
“No momento em que houve o anúncio da prisão captura em flagrante, ele ficou bastante agressivo, transtornado. Chegou a reagir, tentou pegar a arma de um dos policiais e foi preciso contê-lo. Ele também ameaçou policiais e sobretudo o procurador do município, que estava ‘in loco’, tinha chegado no local, no sentido de que ele iria atrás para prejudicar, por assim dizer, as pessoas que estavam participando da prisão captura dele em flagrante”, acrescentou a delegada.
“Importante deixar claro que isso tudo foi iniciativa do vereador. O vereador procurou o prefeito, o vereador agendou depois com ele a data da entrega… O que o Ministério Público e a Polícia Civil fizeram foi apoiar o prefeito a fazer a prisão”, esclareceu Ricardo Martins, subprocurador-geral de Assuntos Criminais do MPRJ.
Na sala onde foi feita a negociação, os policiais encontraram vários papeis picados que, na verdade, eram as anotações de Paulinho do Raio-X com o valor da propina. No dia da prisão, o vereador usava um carro alugado e tinha placa adulterada.
Paulinho foi autuado por corrupção, resistência e ameaça, mas foi solto na segunda-feira (9) e vai responder em liberdade após a defesa conseguir um habeas corpus junto à Justiça. Ele está proibido de manter contato com o prefeito Samuca Silva e outros envolvidos no crime e foi afastado do cargo.
“Não concordamos com a soltura, a liberdade do vereador, porque até o próprio prefeito pode estar agora numa situação frágil e mesmo de perigo”, lamentou Ricardo Martins.
Segundo o MPRJ, outros dois vereadores também são investigados no caso.