Por André Aquino
Em 15 de março de 2015, a dona Rosa (*) foi acordada de madrugada com o toque do celular. Do outro lado da linha, tentando amenizar a dor, um policial avisa que o filho de 41 anos acabara de sofrer um acidente de moto. Na realidade, ele tinha sido alvejado com quatro tiros no bairro Dom Bosco, em Volta Redonda. Três no peito e outro na mão. Morreu na hora e, quase três anos depois, ninguém foi preso. Nenhuma testemunha. O caso, na época, foi registrado como latrocínio – roubo seguido de morte. A moto, que a vítima havia sido comprada pouco dias antes do crime, foi levada pelos assassinos. Ele deixou uma filha.
– Nunca vou me acostumar com a morte do meu filho. Isso é impossível – ressalta a senhora, que hoje tem 73 anos, que evita em falar daquele dia. Ela, ainda com trauma, pediu à equipe de reportagem não citar o nome e nem tirar foto. “Falar sobre isso me dói”.
O filho da dona Rosa faz parte de uma estatística dos últimos 15 anos do ISP (Instituto de Segurança Pública), do Governo do Estado, levantada pela TRIBUNA. De 1º de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2017, 963 homicídios dolosos foram registrados no 93ª DP (Volta Redonda), uma média anual de quase 64,2 assassinatos por ano. Isso significa uma taxa de 24,5 homicídios por cada 100 mil habitantes, levando em consideração ao último censo do IBGE com 262 mil habitantes. O índice é abaixo da média nacional (30,5 – 100 mil, em 2017), mas acima de estados como Minas Gerais (20,8), Santa Catarina (14,3) e Distrito Federal (23,4).
Dados da Organização Mundial de Saúde mostram que pelo menos 75% das vítimas são dependentes químicos ou estão envolvidos com o tráfico de entorpecentes
Carla Alves, de 57 anos, também passou pelo pior dor da vida: a perda do filho, na época com 23 anos. Ele, que foi assassinado em 2010 na região da Vila Brasília, não teve a mínima chance de defesa: levou dois tiros nas costas e outro na nuca, conforme define a própria mãe, “foi uma execução”.
– Eu sabia que ele se envolvia com coisas erradas, mas sempre tinha a esperança de que um dia ele saísse daquela vida. Hoje, busco na religião um pouco de conforto, numa forma de aliviar, mas jamais esquecerei. Louvo a Deus que Ele me permitiu que ficasse com o meu filho por 23 anos – conta Carla Alves, que optou em se mudar do bairro logo após do crime. “Não queria passar todos os dias pelo local da morte. Isso seria uma tortura para mim e toda minha família. Minha outra filha, de 16 anos, está no caminho do Senhor”.
Prevenção de uso de droga deve começar na infância, diz especialista
Para o psicólogo Ricardo Cunha, da Coordenadoria de Prevenção às Drogas de Volta Redonda, o caminho da diminuição do número de usuários de entorpecentes sempre passa pelas campanhas de prevenção. Para ele, os trabalhos devem começar na infância e sem a necessidade de citar a droga.
– Para prevenção do uso, não necessariamente precisamos citar a droga. O simples fato de incentivar as crianças e adolescentes a praticarem esporte, atividades culturais e de lazer já criamos uma cultura anti-drogas – explicou Ricardo Cunha, que vai lançar oficialmente esse ano o projeto “Escola Preventiva”. Nele, mais de 35 mil estudantes da rede municipal de ensino vão participar de campanhas de prevenção
Maneira para superar a morte de filho
Para a psicóloga Renata Portocarrero, da PUC do Rio de Janeiro, a dor da perda de um filho é devastadora para um indivíduo, mas com o tempo é possível a superação. “Cada um no seu tempo. Muitas pessoas encontram alívio na espiritualidade, exercitando sua fé. O apoio dos demais membros da família, a retomada a seu tempo das atividades da vida para que possa se ocupar, se distrair. É necessário retomar a vida”, explicou a especialista, que continuou:
– Como cada um vivenciará essa dor de um jeito e alguns podem reagir de forma mais melancólica resistindo em retomar sua vida, um apoio psicológico e até mesmo médico pode se fazer necessário, finalizou.
Casos de repercussão são solucionados com maior rapidez
Os homicídios que repercutem e comovem a opinião pública têm a tendência de ser resolvidos com maior rapidez. Um dos mais recente foi assassinato do professor do curso de Ciências Contábeis do Centro Universitário de Volta Redonda (Unifoa), Hyder Marcelo Araújo Lima, de 37 anos.
Ele foi encontrado, com sinais de estrangulamento, dentro de seu próprio apartamento na Rua Sete de Setembro, no Aterrado, em março de 2017. Na ocasião, centenas de universitários fizeram manifestação, condenando a violência e clamando pela identificação e prisão do assassino. Vinte e oito dias após o homicídio Carlos Eduardo Borges de Andrade, o Cadu, de 21 anos, foi preso pela Polícia Civil, acusado de ter matado o professor.
Outro crime que teve tempo recorde de solução foi a morte de um padre e um ex-seminarista, no ano de 2010. Em apenas dois, o caso já estava elucidado pelos agentes da 93º DP. Dois jovens de 19 anos foram presos e confessaram o crime.