As ofensas tidas como racistas e preconceituosas, recebidas em rede social pela família do professor universitário e doutor em Filosofia e Teologia, Marco Antônio de Oliveira, de 53 anos, do arrendatário da Pousada Canto do Hibisco, Henrique de Santana ganhou rápida repercussão. Empresários do setor se dizem indignados com o tratamento “surreal e desprezível” dado a Marco Antônio e seus parentes pelo estabelecimento, que fica na Ilha da Gipóia, em Angra dos Reis.
Nesta manhã, em nota, a empresaria Roberta Nakamashi, por exemplo, dona da Pousada do Preto, uma das mais tradicionais da Ilha Grande, na Enseada do Bananal, se dizendo sensibilizada com o ocorrido, ofereceu estadia de um fim de semana de graça para a família do professor.
“Infelizmente, o que aconteceu foi uma atitude isolada. Oferecer estadia é uma forma de mostrar que os outros estabelecimentos da ilha, com certeza, não compactuam com tal comportamento (do arrendatário). Entendemos que nossos hospedes são preciosos, a razão de nossos empreendimentos. São amigos, independentes de cor, raça e credo”, justificou Roberta, detalhando que as diárias oferecidas como cortesia incluem quartos de frente para o mar, pensão completa, translado e até passeio de barco. A pousada surgiu na década de 1990, nas instalações de uma antiga fábrica de pescados, por iniciativa de Kiyoshi Nakamashi, mais conhecido como Preto.
Além de reclamar de um suposto furto de R$ 40 dentro da pousada, que, segundo Priscila, teria sido sofrido pelo namorado, Thiago Michimoto, 29, ela também afirmou que as humilhações, que viralizam na internet, serão detalhadas no boletim de ocorrências da Polícia Civil.
“Tentamos registrar (o caso), neste domingo, em Niterói (na Região Metropolitana), mas um agente alegou que era melhor registrar em Angra, porque senão a tramitação do caso para o Sul do estado pode levar de um a dois anos”, lamentou Priscila, que se hospedou na pousada também na companhia da mãe, Zeni Oliveira, 59.
“Nunca fomos tão maltratados e humilhados. Há áudios em que Henrique diz à camareira que desconfiava de nós. Até água potável, garantida por lei, só nos serviram no café da manhã durante a estadia (entre os últimos dias 23 e 25), com diária de R$ 400”, reclamou.
As postagens de Henrique, reproduzidos por Priscila nas redes sociais, chocaram os internautas. “Toma vergonha na cara e vai procurar um lugar onde seu bolso possa pagar. Aqui nunca foi pra gente da sua laia. Pobres, feios, miseráveis e mal-educados. Gipóia é pra quem tem classe, cerca elétrica, segurança 24h por dia é necessário (sic) na comunidade onde vc mora. Aqui é o Caribe Carioca, tem a proteção da Marinha do Brasil. Você não vai voltar aqui porque sua cara e de todos que vieram (família) estão estampadas nas pousadas da região por serem suspeitos…”, diz uma das postagens.
As ofensas continuaram: “Escolha um lugar onde seu bolso possa pagar… entre com processos, liminares e afins. Todos os esquerdistas têm essa premissa… Só não se esqueça que o Brasil de 1º de janeiro não é o mesmo do governo passado. Aqui não tem Bolsa Família. Aqui é Angra dos Reis…. vai se tratar. Pobreza e miséria são espíritos vai se libertar (sic)”
O outro lado
Por telefone na noite de domingo, Henrique de Santana disse que está preparando uma nota oficial, não divulgada até o momento, mas admitiu ter escrito as ofensas, veemente contestadas e criticadas na Internet. Ele alegou, porém, que “estava de cabeça quente”. Henrique revelou que, neste domingo, ele também fez um registro de ocorrência na 166ª DP, por suposta calúnia, difamação e falsa denúncia contra Priscila.
“Essa história já foi longe demais. Eu, que também sou negro e abomino o racismo, já constitui advogados para me defender. Tivemos que tirar os sites da pousada do ar, porque comecei a receber até ameaças de morte de internautas. Meu prejuízo já é gigantesco, com o cancelamento de reservas e até eventos, entre eles, dois casamentos”, argumentou, garantindo que, para evitar “maiores transtornos”, deu R$ 40 a Thiago, que teria alegado sumiço do dinheiro de sua carteira, que havia ficado no quarto num dos dias. “Em 19 anos de atividade, a pousada nunca teve problema semelhante”, finalizou.
Reportagem: Francisco Edson Alves, o Dia.