Por Felipe Rodrigues
O mundo parou com a pandemia provocada pelo novo coronavírus (Covid-19). Os primeiros casos da doença surgiu na China e já fez milhares de vítimas colocando grande parte do mundo em isolamento domiciliar. A situação no Brasil não é muito diferente das demais nações, a cada dia novos casos surgem e o medo aumenta.
Muitos brasileiros, nascido na região, saem do país em busca de novas oportunidades e sonhos. Enfrentar essa situação longe dos familiares e amigos não deve ser algo fácil, sobretudo por conta das leis mais severas que de fato impõe que a quarentena deve ser cumprida rigorosamente.
Nesta reportagem especial, o TRIBUNA foi atrás de algumas dessas pessoas que nos contaram como está sendo lidar com a doença em três diferentes países europeus.
Na Itália
Há nove anos, a design de Barra Mansa Roberta Felix, mora em Cabiate, na província de Como, na Itália. O país é um dos locais no qual a doença teve um alastro muito significativo. Segundo o último levantamento divulgado pela agência Reuters, o país registrou 3.405 mortes pelo novo coronavírus.
Segundo a brasileira, a doença começou a ser divulgada em meados de janeiro e, a partir de então, as autoridades começou a tomar as primeiras providencias, pois o vírus ainda era algo desconhecido e ninguém imagina que teria uma propagação no nível que chegou.
Uma das primeiras medidas foi a suspensão de todos os vôos vindos dos países do continente asiáticos e a repatriação dos italianos. Porém o país deixou uma brecha, as fronteiras da Europa foram mantidas abertas e isso pode ter sido um facilitador para a chegada e expansão do vírus.
“A população italiana é muito velha. Na minha cidade, por exemplo, tem um pouco mais de 11 mil habitantes, sete mil são idosos acima de 65 anos”, contou.
“O primeiro caso confirmado aqui foi de um casal chinês que estavam em Milão e depois foram para Roma, a Itália começou a fazer os testes em todas as pessoas que apresentavam os sintomas da doença. E assim foram começando surgir os novos casos”, completou.
Roberta contou que nesses primeiros dias, as pessoas estavam tranquilas, até que na semana do carnaval, uma cidade inteira foi contaminada e dali por diante a propagação da doença foi maior e mais rápida.
“As atividades começaram a ser suspensa, como o carnaval, as aulas. Ainda assim, as pessoas pareciam não estar entendendo que o problema era sério e levava suas as vidas normalmente, mesmo o governo estando em constante alerta”, disse.
O boom veio uma semana após as primeiras suspensões, quando na província de Bergamo começou a ter uma serie casos fatais. Na ocasião pessoas nao tiveram o direito de ter um funeral, pois os corpos ficavam confinados e os parentes podiam ver apenas por uma parede de vidro por alguns instantes, antes do corpo ser cremado.
Tendo em vista que parte das pessoas mantinham suas rotinas, o governo italiano decretou uma medida de segurança mais severa, para sair de suas casas precisa de um certificado com um laudo de não contaminado.
“A polícia faz constantes rondas e quando uma pessoa é avistada por eles é parada. Se não tiver com o certificado em mãos ele é punido com uma pena que varia de três meses a três anos de reclusão e uma multa de 2 mil euro”, informou.
A brasileira disse que está prevista uma nova reunião que definirá novas medidas visando manter as pessoas em casa, pois não há mais leitos nos hospitais e nem espaço nos necrotérios.
“Além disso, existe um projeto para a criação de dois hospitais de campanha para atender a população. Tem muitas informações que não procede e a mídia espalha, como as que o governo está deixando pessoas com mais 80 anos morrerem. Isso não existe, não tem como escolher quem vive e quem morre”, afirmou.
De acordo com Roberta, a situação poderia ter tido um outro rumo, caso as pessoas tivesse levado mais a sério a doença.
“Tudo que eu peço é que as pessoas levem a sério essa situação, porque se desde o começo tivessem tido medidas severas poderia ter sido mais fácil. Vamos esperar pelo melhor. Que vamos conseguir passar por isso da forma mais pacifica possível, para depois contabilizar os danos e tentar nos reerguer”, concluiu.
Em Portugal
Em busca de novas oportunidades e a fim de conhecer culturas diferentes, o jovem de Volta Redonda Thiago Werneck, partiu para Portugal, em 2015. Lá ele teve a chance de matar suas expectativas e viver os seus desejos.
Morando atualmente em Lisboa, o jovem conseguiu organizar sua vida e hoje tem um contrato de trabalho em uma empresa da capital.
Após os primeiros casos da pandemia no país, Thiago contou que o governo adotou algumas medidas, porém, nesta semana, as mesmas foram mais drásticas.
“Estamos sendo informados o tempo todo sobre as medidas que vão sendo tomadas. A última determinou que todo o centro comercial fosse fechado, mantendo apenas os serviços essenciais”, informou.
Segundo ele, quase todos os trabalhadores, portugueses e imigrantes, estão em quarentena dentro de suas casas.
“As pessoas, como eu que tem contrato estão salvas, porém aqueles que não tem estão sendo dispensados. Acredito que dentro de alguns dias essas passarão dificuldades”, disse.
Em relação aos modos de prevenção de contágio da doença, Thiago contou que o governo português orientou as pessoas não sairem de suas casas, apenas em casos de emergência.
“Novas medidas com relação às rendas, contas e contratos serão discutidas. Eu, por exemplo, tive que entrar em contato com o meu senhorio para falar sobre o pagamento do aluguel, porque acredito que vai virar uma bola de neve, não apenas em Portugal, mas também em toda Europa”, adiantou.
Na França
Após se casar com um francês, a jornalista barra-mansense Lara Gilly, mudou-se para Paris, na França, em agosto de 2019. Segundo ela, o assunto coronavírus começou de forma discreta com algumas reportagens em jornais diários, porém aos poucos, com surgimento de novos casos o assunto foi tomando novas proporções.
Nesse primeiro momento, de acordo com Lara, ninguém se preocupava e mantinham suas atividades normalmente sem nenhuma alteração. Até a Itália começar anunciar a gravidade, no qual o país passava, fazendo com que os italianos ficassem em quarentena.
“Foi nesse momento que houve um impacto foi maior. O governo francês iniciou as campanhas de prevenção através dos meios de comunicação e nos locais públicos. Já era possível ver algumas pessoas fazendo uso de máscara em metrôs e nas telas dos coletivos continham vídeos mostrando as formas de higiene, mas ainda assim não mobilizou tanto a nação”, relembrou.
A primeira grande ação do governo foi proibir campeonatos de futebol e shows, onde concentravam mais de cinco mil pessoas. Mesmo com as medidas as pessoas ainda estavam vivendo normalmente. Até que na última semana o Presidente da França, Emmanuel Macron, fez um pronunciamento na televisão fazendo todo o cenário mudar.
“Nesse pronunciamento, ele disse que a partir das próximas semanas todo centro de ensino estariam fechados. Foi nesse momento que as pessoas se ligaram na gravidade do assunto, porém já havia cerca de cinco mil casos de infetados no país. No dia seguinte veio um alerta ainda maior proibindo o funcionamento de todos os bares, restaurantes, boates, museus, comércios, mantendo aberto apenas serviços de extrema necessidade como mercados e farmácias”, disse.
Segundo a jornalista muitas empresas já havia adotado o funcionamento via home oficce ou com pequenos grupos de funcionários, quando o presidente informou que todo o país deveria manter-se confinados dentro de suas casas.
“Isso gerou um certo pânico. As pessoas correram aos mercados e começou a ter falta de mantimentos por conta de alguns estocarem alimentos”, contou.
Assim como em diversos outros países do mundo, a França terá a quarentena de 15 dias e também contará com monitoramento do exercito e da polícia militar. A orientação está sendo seguida, informou Lara, e completou dizendo que as pessoas que precisam sair para trabalhar tem que apresentar um documento de liberação.
No final da entrevista, Lara fez questão de elogiar o governo brasileiro, que atuou com prontidão a fim de exterminar o vírus.
“Mais uma vez o Brasil está tendo que aprender com os erros dos outros e eu estou muito feliz em ver que as medidas drásticas estão sendo tomadas, como fechar as escolas e centros comerciais para evitar aglomerações. Tem muita gente minimizando a situação, mas temos que dar seriedade, pois o assunto é muito sério”, finalizou.