Por Tribuna
Uma enxurrada de críticas contra os policiais militares que atuaram no sequestro que resultou na morte da dentista Mayara Pereira, 31 anos, refém durante cerca de duas horas e meia no campus do Centro Universitário de Valença e acabou atirando em sua boca. Levada ao hospital, a vítima não resistiu.
Segundo internautas, a morte poderia ser evitada com um tiro de imobilização. Eles disseram diversas vezes o sequestrador ficou longe da vítima, o que poderia ser feita a imobilização.
— Com tantos policiais no momento do acontecido , porque não atiraram no pé desse infeliz, se nas imagens mostra ele fora do veículo antes de atirar na moça ,quem merecia morrer era ele. Se a intenção dele era matar, com a chegada do helicóptero só fez com que ele agisse mais rápido, polícia despreparada , onde fica nossa segurança – escreveu um internauta.
A tenente-coronel Gabryela Dantas, porta-voz da PM, disse que houve “tentativa de negociação” com o cabo, lembrando que a Unidade de Intervenção Tática (UIT) do Bope (Batalhão de Operações Especiais), da própria corporação, foi deslocada de helicóptero do Rio para Valença. A equipe conta com profissionais especializados em negociar em situações deste tipo.
Ela analisou, em entrevista à TV Record, a atuação dos policiais no episódio e não enxergou falhas na abordagem: “Nós não tínhamos como prever que ele teria a capacidade de fazer isso [atirar na vítima]”, afirmou a porta-voz, depois de considerar “inadmissível o que ele fez, um crime bárbaro, um feminicídio”.
– Esta ocorrência demorou duas horas e meia. Tivemos que deslocar a equipe do Bope daqui [do Rio] para outro município, que foi em Valença. O Bope chegou, mas ele tomou a decisão de, infelizmente, vitimar, mas a negociação já tinha começado através dos policiais do 10º BPM – prosseguiu a porta-voz, referindo ao Batalhão de Polícia Militar sediado em Barra do Piraí e responsável pela segurança na cidade vizinha.
Ainda de acordo com a porta-voz, o cabo Janitom já respondeu a um procedimento administrativo disciplinar. “Ele foi a uma Comissão de Revisão Disciplinar, em 2013, ele teve um processo, ele foi autuado por ameaça a menor”, finalizou Gabryela, que considerou a sexta-feira “um dia de luto” para a Polícia Militar.
Em caso parecido, não precisou de Bope.
O caso de Mayara remete, obrigatoriamente, a outro, ocorrido em 2018 na mesma cidade. No dia 5 de dezembro daquele ano, Cristiano Pereira Fabiano, de 24 anos, foi abatido por um policial militar, também no Centro da cidade, depois de assaltar uma joalheira e fazer refém Tereza de Jesus Ferreira Sacramento, de 83 anos, na tentativa de fuga.
O PM atirou no assaltante no momento em que a idosa caiu ao ser levada da calçada para a rua de paralelepípedos, no momento em que tropeçou. Ao mesmo tempo, o assaltante teria feito menção de atirar contra os policiais, sendo baleado pelo policial. Cristiano morreu na hora.
Histórico de violência do Cabo Janetom
Há dez anos, o irmão de uma namorada do policial foi até a 90ª DP (Barra Mansa) para denunciar que a mulher havia sido agredida fisicamente pelo militar. O homem disse que a irmã não tinha ido até a delegacia porque estava muito nervosa. A polícia instaurou uma Verifação Preliminar de Informação (VPI), que acabou suspensa.
Em 2013, Janitom voltou a ser denunciado, dessa vez por lesão corporal e ameaça. A vítima também esteve na 90ª DP para relatar que foi abordado pelo policial, que era lotado no 28º BPM (Volta Redonda), mas estava sem farda. O homem afirma que foi revistado e, em seguida, agredido pelo PM com socos. O policial ainda teria colocado o revólver na barriga da vítima.
O homem afirmou ainda que no dia seguinte foi novamente abordado pelo policial, cque colocou uma pistola em sua cabeça e o arrastou até uma caminhonete. A vítima narra que o PM abriu as portas do carro para que ninguém os visse. Já com as portas abertas, o policial determinou que a vítima arriasse a bermuda e a cueca para revistá-lo. Em seguida, disse que sempre que visse o homem “iria esculachá-lo”. O caso segue em andamento na delegacia.
No mesmo ano, outra vítima procurou a 90ª DP para fazer um registro de ocorrência contra o PM. O jovem relatou que foi agredido por um segurança de um posto de gasolina no bairro Santa Cecília, em Volta Redonda, com socos e pontapés no rosto e na nuca. O rapaz disse que possui uma desavença com o cabo Janitom, que teria sido quem pediu para o segurança lhe agredir. A vítima ainda relatou que Janitom estava no posto em uma viatura da Polícia Militar.
– Ele sempre trabalhou na rua, no serviço ostensivo. São coisas que acontecem pelo próprio ofício, é inerente à própria profissão. Ele não responde a nenhum procedimento envolvendo corrupção, sempre foi um policial honesto – afirma Daniela
Sequestro e morte
A cirurgiã-dentista Mayara Pereira de Oliveira, de 31 anos, foi mantida refém e depois baleada pelo namorado, Janitom Celso Rosa Amorim, de 39 anos, no estacionamento de uma universidade em Valença, no Sul Fluminense.
O sequestro ocorreu durante a manhã, e a Mayara ficou 2h30 em poder do namorado, dentro do próprio carro, na área de estacionamento da Fundação Educacional Dom André Arcoverde (FAA), no bairro Fátima. Segundo informações da Polícia Militar, a Unidade de Intervenção Tática (UIT) do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) foi acionada e imediatamente deslocada de helicóptero para Valença.
Ainda durante a negociação preliminar, Janitom atirou contra a vítima. Depois, foi imobilizado por policiais e levado para a delegacia local. A dentista foi atingida na boca e levada para o Hospital Escola da própria universidade, mas teve quatro paradas cardíadas e não resistiu.
Mayara era aluna de um curso de pós-graduação na área de odontologia da Fundação Educacional Dom André Arcoverde. Ela deixa um filho de cinco anos, fruto de um relacionamento anterior. (Com informação do Extra e Foco Regional)