Por Felipe Rodrigues
Entrar na faculdade não é exclusividade para aqueles que acabaram de concluir o ensino médio. Nunca é tarde para aprender e, enquanto uns acreditam que investir na educação após certa idade se tornando um calouro cinquentão é perda de tempo, outros são positivos em afirmarem que o conhecimento nunca é tardio ou desperdício de tempo.
A reportagem especial do TRIBUNA vai contar histórias de três pessoas que resolveram deixar de lado o medo do preconceito e partiram a luta. A busca em concretizar sonho, foi o primeiro passo, mas a caminhada ainda é longa e os obstáculos são apenas desafios a serem enfrentados e, então, superados.
A busca pelo conhecimento é algo que ultrapassa os limites de tempo, idade e distância. Esse é o caso do primeiro personagem dessa reportagem. Estando a mais de 150 km de distância de Barra Mansa, o aposentado Gerson Guedes Fernandes, de 66 anos, diariamente faz o trajeto em busca do antigo sonho de se formar em Direito.
Hoje, no oitavo período do curso, ele garante que a idade e a força de vontade podem ser aliadas quando o assunto é vontade de crescer.
O conhecimento é tão importante em sua vida, que há um ano e meio ele se matriculou em outro curso pela Faculdade Virtual de São Paulo.
Além do diploma, que dará direito a atuação como advogado, ele também vai garantir o de engenheiro de computação.
Ver a garra e o querer de tornar o mundo um lugar melhor é o que me motiva a continuar sempre em busca do conhecimento’ Gerson Fernandes (foto acima)
Com uma vida estabilizada, aposentado e com os filhos encaminhados na vida, o aposentado garante que a maior motivação de estudar nessa altura do campeonato é de adquirir novos conhecimentos, além de estar inserido em um ambiente que ele se sente bem a vontade: com aos jovens.
— Minha sala é composta por mais 45 alunos, eu sou o mais velho da classe e acredito que do curso em geral eu sou o estudante de maior idade que passou pelo Centro Universitário de Barra Mansa, explicou.
Perseverança e dedicação
A sala de aula pode se tornar um ambiente desafiador para qualquer estudante, de todas as idades. Para Gerson, seus impasses são similares de seus companheiros de sala.
— Todos nós que buscamos uma graduação encontramos no meio do caminho alguns desafios, mas com perseverança e dedicação é possível conquistar tudo que desejamos, afirmou o aposentado.
Gerson ainda aconselhou os que têm vontade de estudar, porém acreditam que a idade é um fator que atrapalha o processo.
— O medo não pode ser maior que o desejo de se tornar aquilo que queremos. Estudar nos faz a gente sempre se manter de mente aberta para absorver tudo de uma forma pessoal e humana.
— Ver aqueles sonhos de infância sendo realizado, me mostra que a idade é apenas um tempo cronológico que sim, eu posso usar a meu favor, completou Gerson.
“O saber não ocupa espaço”, diz aluna de 66 anos
De mestra à aluna. A professora de História e Ensino Religioso Isildinha Aparecida Nogueira Alves, é um exemplo de força de vontade e disciplina.
Aos 66 anos, ela ocupa uma das carteiras da sala de aula, do oitavo período do curso de psicologia, do Centro Universitário de Barra Mansa (UBM). Foi após garantir sua aposentadoria na rede de ensino, que ela resolveu, não apenas se aventurar em outra graduação, mas também se reinventar.
— Durante mais de trinta anos atuei como professora e também pedagoga. Mas sempre guardei dentro de mim o desejo de fazer psicologia, aproveitei a oportunidade, vi que não era tarde para começar e realizar esse sonho, foi nesse momento que eu ousei em entrar no curso – disse.
Quando a estudante diz que ousou em arriscar uma nova graduação, ela frisou que o motivo foi o medo de não conseguir dar conta dos cinco anos que viriam pela frente, por conta de suas funções como mãe e avó e também do lar.

Isildinha afirma que o relacionamento com os colegas em sala de aula, apesar da diferença de idade, não foi um problema.
— Eu recebi muita força e carinho. Tento retribuir o máximo que posso, dando também demonstração de afeto. Não me sinto deslocada, muito pelo contrário, desde o primeiro dia me sinto muito a vontade com a turma e sinto que eles também comigo. O fato de estarmos juntos dá uma força para o outro — expressou.
Faltando apenas um ano e meio para garantir o diploma, a aposentada já tem planos pós-formação.
— A princípio penso que por estar aposentada poderia fazer trabalhos voluntários com atendimentos psicológicos. Outra coisa que gostaria de desenvolver, são projetos para tratamentos com dependentes químicos, expôs.
Hoje, ela se sente exemplo de perseverança, luta e força de vontade para outras pessoas que assim como ela, estão com uma idade elevada, porém não deixa esse quesito ser um empecilho para suas conquistas.
– A mensagem que eu deixo para as pessoas é que não desanimem dos seus sonhos e objetivos, e isso é independente da idade. Esses desafios nos permitem conviver com outras pessoas, exercitar a mente, coisas que são extremamente importantes -, considerou Isildinha.
Novas amizades
Muitos acham que existe apenas um período específico na vida, no qual é viável fazer faculdade. Isso acaba aparentando que há um prazo de validade para a capacidade humana de estudar. Uma idade acima da média, pode até ocasionar alguns obstáculos, mas também há seus benefícios. Foi de olho nessas vantagens que a jornalista Jane Portella, de 54 anos, resolveu se arriscar e ingressar na faculdade de Direito do Centro Universitário Geraldo Di Biase, (UGB), em 2017.
De acordo com a estudante, sua grande motivação foi devido a sua aptidão para a área jurídica. Porém, outros fatores que compõem a questão, como, por exemplo, a indignação perante as situações de injustiças enfrentadas principalmente pelas pessoas menos favorecidas economicamente, foram cruciais para sua iniciativa.

— Existe ainda a vontade de dar um novo resignificado na vida. Divorciada e com os filhos adultos, fica a sensação da casa vazia. Associado a tudo isso, os 30 anos de atuação na área de Comunicação Social fez com que buscasse novas oportunidades profissionais. transmitiu.
Jane é um exemplo de pessoa que não demonstra medo ao encarar o novo e encara os desafios como oportunidade de crescimento.
Respeito e carinho
futura advogada frisou que a relação entre ela e os colegas funciona como troca. No ambiente de sala de aula, além de dividir o tempo com os conteúdos didáticos, ainda sobra um intervalo para compartilhar o respeito, carinho e parceria.
— Acredito que eles me vêem como referência devido à falta de inibição perante o público, em contrapartida, os jovens, reascendem em mim aquele sentimento maravilhoso de que podemos mudar o mundo. E de fato, acredito que podemos – expressou, não poupando elogios e gratidão ao seu grupo de amigos mais próximos.
— Sou muito grata por cada nova amizade que estabeleci, destaque para os amigos Juliana Simiano, Vaviane Rodrigues, Maralina Oliveira, Camila Martins, Vitor Soares e os professores Daniel Souza, Carlos Barbosa e Ariadne Yurkin Scandiuzzi -, completou.
Os planos de Jane já estão sendo estudado, segundo ela, após a formação e conquistar a aprovação da tão esperada prova da Ordem dos Advogados (OAB), na sequencia ela pretende prestar concurso para a magistratura.
Para as pessoas que querem voltar a estudar, mas por conta da idade tem seus receios, a estudante foi enfática.
As pessoas não podem se limitar. A idade traz alguns inconvenientes que podem ser superados, mas ao mesmo tempo, sabedoria e segurança. Siga firme nos seus passos. Não olhe para trás, não olhe para os lados. Siga sempre em frente, afinal, você pode e deve ir sempre à frente
