Sociedade - Especial Sul Fluminense

Até breve, Brasil! Jovens da região contam como é morar no exterior



Quatro jovens. Quatro países. Em comum: os sonhos e a esperança de uma nova vida. Na bagagem, vão a vontade de conhecer outras culturas, culinárias, os famosos pontos turísticos e também aprimorar seus conhecimentos. Muitos brasileiros decidem partir para outros países deixando para trás família, amigos, estabilidade de seus lares. Eles veem nessa decisão uma forma de melhorarem suas vidas para, depois, retornarem com uma bagagem mais completa, melhores preparados e valorizados.

No especial dessa semana do TribunaSF, produzido pelo repórter Felipe Rodrigues, vamos apresentar quatro casos de pessoas naturais da região Sul Fluminense que estão tendo a experiência de viver fora do Brasil. Uma coisa em comum: a visão sobre o Brasil e a falta de vontade de voltar para seus lares, apesar da saudade e também do patriotismo.

“Eu nunca tive vontade de me tornar alemã, porém tento me adaptar as situações. Mesmo assim continuo sendo brasileira com muito orgulho” (Maryan D’avila-Bartels, Aachen, Alemanha).

 

 

A primeira personagem desta reportagem é de Barra Mansa, mas há dez anos vive em Aachen, Alemanha. A jornalista Maryan D’avila-Bartels, 31 anos, diz que sempre teve vontade de conhecer e morar nos EUA, porém sempre encontrou dificuldades para realizar esse desejo.

Após completar seu ciclo acadêmico recebeu o convite de uma familiar para ir a Alemanha para estudar o idioma. “Sempre fui apaixonada pelas línguas estrangeiras, eu já falava inglês quando vim para a Alemanha no princípio era apenas para estudar”, conta.

Após oito meses estudando ela retornou ao Brasil, porém já sentia que não fazia mais parte de seu território nacional. “Hoje não sinto vontade alguma de retornar ao Brasil, passei um período de dois anos e para mim não compensou. O fato da minha filha não ter se adaptado ao clima e, também, as dificuldades no mercado de trabalho devido às dificuldades econômicas do país, foram fatores que me ajudaram nessa decisão”, afirma a jornalista.

Hoje em dia, bem adaptada a cultura e as pessoas, Maryan acredita que quando alguém vive muito tempo fora de seu país de origem, ela acaba sentindo falta de algo, e isso é normal. Segundo ela, todo brasileiro ou qualquer estrangeiro que vive fora do seu país sente, principalmente pela diferença cultural.

“Esse sentimento gera uma ilusão de querer voltar para o seu país de origem, mas não passa de nostalgia, a falta de algo que já aconteceu e não vai se repetir”, explica.

Não esquecer as origens 

Para ela, o seu retorno ao Brasil foi de extrema importância, pois assim pode perceber que na Alemanha se sente em casa, apesar da falta dos amigos e familiares. “Eu amo minha família e minha origem, sempre que posso vou visitá-los, mas aqui eu fiz outros amigos e familiares, acredito que essa foi a solução que eu encontrei. Sou uma pessoa completamente acolhida pela família no qual eu faço parte agora”, expressa.

A jornalista acredita que a falta de emprego no Brasil é devido ao favoritismo criada pelas empresas e órgão públicos e que o sistema acaba manipulando todas as coisas, não contribuindo com o desenvolvimento intelectual e econômico do país.

“O Brasil é um país muito rico, se houvesse uma distribuição de renda, uma melhor administração, não haveria essa crise econômica na qual o país não consegue sair. Mudar isso é muito difícil. Por que algumas coisas funcionam em uns países e não no Brasil?”, questiona.

“O espírito aventureiro e a determinação pode levar as pessoas para onde elas quiserem, foi assim comigo” (Thiago Wernek, Lisboa, Portugal)

Morar fora do Brasil sempre foi uma meta na vida do jovem volta-redondense Thiago Werneck, de 32 anos. Há dois anos e cinco meses ele se aventurou ao partir para Portugal com a cara e a coragem. Para ele, tem dado certo.

Hoje ele exerce a função de gerente em um café bar na capital do país, em Lisboa. Segundo ele, voltar para o Brasil não é algo que faz parte de seus planos. “Eu me sinto completo e realizado aqui, esse sonho eu consegui conquistar. Não sinto vontade alguma de voltar para o Brasil. A falta de de leis, de segurança e de oportunidades são os itens que mais me convence disso”, conta.

Rápida adaptação

Thiago diz que quando chegou na cidade de Lisboa encontrou dificuldades para chegar aos locais para se oferecer no mercado de trabalho, mas garante que não teve grandes dificuldades para conseguir se comunicar. “Quando cheguei  me sentia um pouco perdido, pois não conhecia nada, aos poucos fui me acostumando e agora vou a todos os lugares sem medo”.

Apesar de estar a quilômetros de distância de casa, Thiago afirma que tem acompanhado a situação atual do Brasil e sugere que o país precisa melhorar a política.

“O atual cenário político vive uma crise, os brasileiros precisam de governantes que se comprometa com o povo, pessoas sérias com projetos que vá beneficiar toda a população e não apenas um grupo”, posicionou.

O jovem diz que a saudade dos amigos e familiares é algo que sempre o acompanha, mas afirma que os meios eletrônicos e as redes sociais são ferramentas que ajudam a aproximar e aliviar a falta.

“No início sempre é mais difícil, tem dias que a saudade bate muito forte, mas para tentar enganar a falta temos internet que ajuda um pouco”, conclui.

“Quando um sonho é maior que as barreiras, não importa onde ele será concretizado”, Paola Pimentel, La Plata, Argentina.

Ter um médico em casa é o desejo de quase todos os pais. Mas estudar medicina exige muita paciência, dedicação e disciplina. Entrar em uma faculdade no Brasil é uma barreira para muitas pessoas. Isso porque existe um número específico de vagas e os candidatos participam de uma processo eliminatório. Tendo em vista que na Argentina esse método é proibido, muitos brasileiros partem para o país em busca de realizar esse sonho e retornar para suas casas com o diploma nas mãos.

Idioma, um desafio 

A jovem Paola Pimental, de 25 anos, é mais uma brasileira que encontrou inúmeras dificuldades para ingressar na faculdade de medicina. Natural de Barra Mansa, há um ano e oito meses ela vive na cidade de La Plata e garante que desde quando chegou não encontrou muitas dificuldades em se adaptar a sua nova rotina. “A minha única dificuldade foi me adaptar ao idioma, que é o espanhol castelhano”, admite.

Para a jovem, apesar de querer retornar ao país depois de sua formação, um dos maiores problemas no qual os brasileiros enfrentam é o desemprego. “A raiz dos problemas no Brasil se dá por conta da quantidade de pessoas desempregadas, essa realidade é um fator diretamente ligado ao aumento da violência no país”, afirma.

Ainda de acordo com ela, os brasileiros devem refletir ao escolher os governantes e que esses devem ser aqueles candidatos que garantem melhorias nas leis trabalhistas.

“Precisamos de um líder que governe para todos, precisa ser dado oportunidades aos jovens. O salário mínimo precisa ser reajustado, eu tenho como exemplo o salário da Argentina é muito superior ao do Brasil, essa realidade tem que mudar”, sugere Paola.

Quando o assunto é saudade, a estudante garante que esse sentimento é amenizado através do uso das redes sociais e, apesar de ainda ter uma longa trajetória até o termino do curso, em 2023, em nenhum momento ela pensa em abandonar os estudos por conta da falta de seus entes queridos. “Eu lido bem com a ausência dos meus familiares, a internet facilita a comunicação e de certa forma nos aproxima”, conta.

“A diferença da realidade daqui para o Brasil é em cada detalhe, isso me motiva continuar vivendo aqui” (Beatriz Camargo, Estado de Iowa, nos Estados Unidos)

A estudante Beatriz Camargo, 22 anos, natural de Barra Mansa, vive a cinco meses no estado de Iowa, nos Estados Unidos. A jovem conta que sempre teve a vontade de sair do Brasil e morar lá com objetivo de conhecer outro estilo de vida, mas garante que um dos principais motivos foi o de se encontrar profissionalmente. “Em Barra Mansa e na região nunca via oportunidades desde que comecei minha vida acadêmica. Um dos motivos foi a vontade de morar fora, mas a falta de oportunidade e de direcionamento, me ajudou na decisão”, explica.

Sobre as dificuldades de recomeçar a vida em um lugar completamente diferente, a jovem diz que comunicar e se locomover é algo que ainda está se adaptando. “Apesar de ter saído do Brasil com o inglês avançado, encontrei certa dificuldade para me comunicar, as pessoas falam muito rápido, então para entender o que eles estão falando é algo que me trava às vezes”, revela.

Intercâmbio estudantil

Beatriz foi para o EUA através de um intercâmbio estudantil, ela explica que esse programa tem a duração de um ano que pode ser estendido para mais um. Apesar de estar a pouco tempo no país não pensa em ir embora tão cedo, um dos motivos é pelo atual cenário. “A realidade atual do Brasil é algo que me deixa preocupada. Eu comparo a com a realidade daqui e percebo o quanto os dois ambientes são diferentes”, informa. Outro motivo apontado pela estudante é a dificuldade para os brasileiros conquistar suas metas. “No Brasil eu trabalhava muito mais e não conseguia fazer metade das coisas que tenho feito”, garante.

Sobre como lidar com a ausência dos amigos e familiares a jovem conta que antes de viajar pensava muito sobre isso, mas hoje é convicta que a sua vontade de viver essa experiência e conquistar seus objetivos tornam tudo mais fácil. “Eu procuro sempre manter o contato com as pessoas que amo. Seja através das redes sociais, vídeo chamada, mensagens. Até hoje não senti uma falta ao ponto de querer largar tudo. Fui recebida e acolhida de uma forma tão calorosa que tem me ajudado a encarar a falta de uma forma mais tranquila”, descreve.

“A gente tem que aprender a lidar com a ausência, não é fácil, mas a gente acostuma”


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